Atualizado em 21/06/2024 as 09:16:32
Quando Milton Nascimento critica o atual estagio da musica brasileira, muita gente aplaude, concorda e bate palmas. Mas o que não percebi em nenhum comentário foi a respeito da responsabilidade sobre isso, inclusive do próprio artista mineiro.
No momento em que ele cantou, há muitos anos, “todo artista tem que ir aonde o povo está” ele preconizou justamente o que acontece. Seu chamado foi atendido. Sempre me causou espécie essa frase, já que o papel do verdadeiro artista é o oposto: trazer o povo até ele, provocá-lo, instigá-lo, depois dar-lhe o que ele não conhece, e assim aumentar o raio do círculo.
Ir ao encontro do povo é um discurso hipócrita, escrito nas cartilhas pseudo-socialistas. É o mesmo que dar Bolsa Família em lugar de trabalho, que criar cotas no lugar de promover a igualdade social.
Existem artistas e existe o povo. E assim sempre foi e assim deve continuar a ser. O papel da arte nas mudanças sociais é muito maior que dos políticos, e por isso seu papel é tão importante. Então, quando se inverte o processo e se dá o que o povo quer, descendo ao nível mais baixo em troca de fama e dinheiro, só se alimenta mais ainda a roda da miséria intelectual.
Nos últimos anos, o nível cada vez mais rasteiro da musica e da cultura em geral nos mostra isso: os artistas mesmo que inconscientemente ― ou maldosamente ― corroboraram com o estado de coisas atual. Em resumo é a bandidagem que tomou conta da musica brasileira.
Não, senhor Milton, o artista não tem que ir aonde o povo está, descendo as escadas, ganhando muito dinheiro e depois indo dormir em hotéis de luxo. O artista tem que trazer o povo até ele, fazendo com que ele suba as escadas, e para que todos possam um dia dormir, senão em hotéis de luxo, mas ao menos em camas limpas.
26/09/2019
Barata Cichetto, 1958, Araraquara – SP, é poeta, escritor. Criador e editor do Agulha.xyz, e co-fundador da Editora Poetura. Um Livre Pensador.
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