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A Epopeia do Capitão América vs Lex Luthor Brasileiros

Apesar do título ser caricatural, infelizmente, a Direita Conservadora acredita nessa mitologia. Obviamente, não literalmente, mas algo analogicamente parecido com o que os personagens representam simbolicamente na ficção. Jair Bolsonaro, um ex-capitão da reserva do Exército, é como Steve Rogers (Capitão América), que também era um membro de baixa patente do exército americano e virou um super-soldado após receber um soro criado por um cientista. Como o herói da Marvel, Bolsonaro é visto como um defensor do Brasil, dos valores tradicionais brasileiros e da confiança nas Forças Armadas do Brasil (nacionalismo, cristianismo e militarismo). Já Alexandre de Moraes, é como o vilão da DC Comics, Lex Luthor. Um gênio do mal, que apesar de não ter superpoderes, tem muito dinheiro e influência na sociedade e uma inteligência e malevolência de grande porte (o suficiente para ser o arqui-inimigo de um dos heróis mais fortes dos quadrinhos, o Super-Homem).

Toda forma de tribalismo e coletivismo requer uma mitologia que engedre os valores, os ideais e os costumes de determinado grupo. Em certos casos, os personagens mitológicos são figuras fictícias (geralmente deuses e figuras sobrenaturais), em outros, pessoas reais. Quando a mitologia é incorporada numa pessoal real, temos o fenômeno do culto à personalidade. Como a narrativa mitológica conta com arquétipos de figuras ideais que representam e incorporam o Bem e o Mal no seus estado mais primordial, puro e simbólico, há uma espécie de aura especial em torno de todo líder cultuado. Para uma pessoa de fora da tribo, ele é visto como uma pessoal normal. Mas para alguém que acredita na narrativa mitológica da tribo, é alguém muito próximo da perfeição humana, interpretando suas ações sempre de maneira tendenciosa e otimista. E como nas próprias histórias em quadrinhos, para se exaltar as virtudes de um herói, nada melhor do que colocá-lo em combate direto com um vilão, que possua exatamente as características opostas às suas virtudes. Nas mitologias ocidentais, temos vários exemplos como Jesus/Diabo, Ares/Atena e Thor/Loki.

No começo da ascenção de Jair Bolsonaro, tinha esperanças que os conservadores mantivessem um bom-senso e um ceticismo político devido à grande bibliografia de autores influenciados pela tradição do Ceticismo Político Inglês nas livrarias virtuais da maioria dos influencers conservadores da época. Mas assim que Bolsonaro se elegeu e Olavo de Carvalho passou a ser visto como aquele que possibilitou isso, criou-se um culto à persona de ambos. E ao olhar esse embate do STF tentar prender Bolsonaro e observar a reação emocional e a interpretação dos conservadores sobre esses fatos, percebi que estavam todos agindo da mesma maneira que os esquerdistas quando Lula estava sendo acusado e preso. Da mesma maneira que Lula era visto como um Mártir que ajudou os pobres e estava sendo punido por isso, Bolsonaro está sendo punido por defender Deus, os cristãos, a família tradicional, o Brasil e as Forças Armadas. Quando Lula foi preso, foi como a crucificação de Jesus e quando foi solto e eleito, foi como a sua Ressurreição e volta ao Céu. Se Bolsonaro for preso e retornar e ser eleito novamente, será interpretado da mesma maneira, simbolicamente e de maneira inconsciente, é claro.

o sou a favor de nenhuma perseguição judicial e política fora das leis e apesar de não parecer, não me arrependo de ter votado no Bolsonaro, tenho simpatia por sua pessoa e ainda acho a opção menos pior, se tivesse que votar novamente. Alexandre de Moraes e o resto da corja do STF são podres, de fato, mas eles em si mesmos, não são a causa do problema, mas o efeito de algo muito mais grave, que é a falta de individualismo e independência das pessoas. Políticos, juízes ou qualquer tipo de elite, só têm muito poder porque as pessoas se submetem e desejam que as instituições que eles compõem sejam muito fortes e cuidem de nossos problemas. Se a Política é um iceberg, cargos políticos são como a ponta do iceberg e a cultura é o resto do iceberg imerso (que pra quem não sabe, é gigantescamente maior do que a ponta). Para mim, em democracias normais, as eleições representam 10% dos rumos de uma sociedade e a cultura, 90%. Basicamente a mesma proporção das duas partes do iceberg. A Direita Conservadora foca 90% de sua atenção nos políticos e nas eleições e os 10% que sobram, apostam no pior tipo de cultura a se apostar no mundo pós-globalização, a cultura religiosa. A solução do nosso problema não é eleger Bolsonaro novamente, nem prender os membros do STF. A solução não está em agentes externos, nem instituições externas, como o Estado e a Igreja, mas em nós mesmos e a cultura que produzimos, reproduzimos, apreciamos e acreditamos. Precisamos urgentemente de uma cultura global individualista que anule e derrote a atual cultura global coletivista que domina todo o globo (atualmente, aquilo que mais se aproxima disso são as séries coreanas e as animações japonesas, que defendem fortemente a autorresponsabilidade, a liberdade e a vontade de poder individuais). Somente com um espírito individualista as pessoas deixarão de desejar o socialismo, mais Estado, organizações internacionais intervencionistas e pararão de agir como crianças e desejarão ser independentes, se autorresponsabilizarem por suas vidas e ações e lutarão pela liberdade de expressão e pensamento. Para isso, a Direita Ocidental precisará fazer uma autocrítica, se refazer e se adaptar ao novo inimigo e ao novo campo de batalha, como a Velha Esquerda fez no passado, após ser derrotada. As dinâmicas de poder do mundo atual não é mais sobre armas e tanques, sobre país X contra país Y. Guerras diretas e físicas não são mais viáveis, principalmente com o desenvolvimento das armas nucleares e a quase erradicação da fome. O que move o mundo atual é a Guerra Cultural Virtual, que acaba por influenciar, literalmente, tudo e a todos. Desde as decisões mais banais do cotidiano de um cidadão comum, até decisões de amplitudes globais, como as políticas intervencionistas criadas pelos orgãos supranacionais e recebidas muito bem pelas grandes elites políticas e econômicas durante a Pandemia (Fr4udem1a).

 

Prometheu Jr., nascido em um dia qualquer no final do século XX, é um escritor e filósofo brasileiro. Doutor em Filosofia e Psicologia. Possui apenas um livro: “Marxismo: O Irmão Gêmeo do Mal do Cristianismo”. É também um Livre Pensador.

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