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A Triste Figura: Reflexões de um Soldado Solitário

Eu não sei de onde surgiu a expressão “exército de um homem só”, e até analiso o que ela representa: se é o mais corriqueiramente compreendido, como uma pessoa solitária, que luta sem apoio, como se fosse um exército, ou se na contramão, é o exército de um homem solitário, que, da mesma forma e quixotescamente, luta contra algo que o angustia e atormenta. Em ambos os casos, o resultado é cruel, porque tanto em um como em outro temos a figura triste do cavaleiro quixotesco, que briga contra gigantes moinhos de vento.

Se são realmente gigantes ou moinhos, pouco importa, Miguel de Cervantes. O que importa é a luta solitária, de alguém que acredita que seus inimigos, e não apenas seus, são gigantes carecas ou moinhos. São inimigos, e mesmo que imaginários, ainda o são. Imagina a triste figura que entre si e a bela Dulcineia existem monstros, e quem há de lhe provar que não? Imagina o poeta em seu Rocinante de poesia, que entre si e sua Liberdade, existem pás gigantes girando de um moinho de almas.

E entre o poeta delirante e seu Rocinante, há o conformado Sancho e sua enorme pança, cheia de cachaça, linguiça de porco e uma mente cheia de esperanças vãs, que o adverte para que não siga em frente, porque há moinhos disfarçados de gigantes, que há vadias disfarçadas de aldeãs. Lhe disseram que na Espanha morreu Lorca, fuzilado por ser viado e outros pecados, sem nunca ter virado, um quadro de Dali. . E o que me diz disso, Cervantes? Há tanta miséria entre o céu e a terra que nem William pode esclarecer. (E o que há de errado, seu desconfiado, em eu chamar uma bicha de viado e de puta uma vadia, como chamo um cavalo de Rocinante, e um mamute de elefante? Não, eu não sou o galante nem o elegante.

Entre a Espanha, a Inglaterra e Portugal, há o extenso estreito que por direito a ninguém pertence. (Perdi meu mapa de geografia no Ginásio, confesso, então esqueça minha geografia e pensem na pornografia). Apenas reconheço que se há algum exército contra a atual tirania, está entrincheirado nas masmorras do Planalto Central, cagando de medo da Pena Capital. Do Magistrado Federal. E entre a fronteira entre o Peru e a Bolívia, tem a Venezuela, que agora não é da poesia na janela, mas de um ditador, de cairá de podre quanto mais Maduro, junto da árvore podre que mantém à custa de dor e sangue a erva daninha do Comunismo. A Era venenosa do caudilhismo, do poder pelo Poder.

Deixa disso, que esse negócio de exército solitário é coisa de fresco, gente que não conversa nem com o vizinho do apartamento ao lado, e acha que vai libertar o mundo da opressão. Sou esse não, quando se trata de guerrear, mas quando se fala em farrear, sou o tal lobo solitário, pouco solidário, e outro tanto perdulário. Compro à vista e não dou entrevista, não tenho arma de fogo e nem gosto de jogo. Será que sou um exército? Só se for de esfarrapado, mal letrado, que acredita que estar na baia dos porcos comendo lama é o mesmo que foder a primeira-dama.

Claro que um exército de um só, ainda mais como eu, seria derrotado no primeiro pum inimigo. O exército de um solitário, o batalhão de um soldado que sequer sabe engraxar botas e limpar um revólver, quanto menos atirar. Só sei atirar cuspe à distância, e ainda assim com relutância. E, em última instância, atiro, mas é mesmo na minha própria cabeça, antes que algo pior comigo aconteça. Mas como me atirar, se nem uma arma sei segurar? Exército pior do que o do Eu sozinho é o do Rato Que Ruge!

Não, esse era bom, e me fez pensar e rir, e depois rir de novo e pensar de novo. Sobre como o poder é uma coisa sem qualquer lógica, razão ou explicação. Quando alguém quer ter é para possuir, quando alguém quer ser é para crescer, quando alguém quer poder… é apenas para poder. O poder é a única coisa no mundo que se retroalimenta, se come a si mesmo e se justifica por ele próprio. Não há justificativa, essência ou evidência para o poder. É ele por ele, e ponto final. E quem o persegue, como meio e como fim, destruindo tudo e todos que encontra em sua frente, de miseráveis a povos inteiros, nações inteiras, e até o mundo inteiro se precisarem, não são humanos, mesmo que se achem. Não são nada. A não ser dejetos. Que serão jogados na latrina do mundo.

Quanto a mim, exército de um só, de solitário, continuo, com meu pescoço velho enrugado, com minhas mãos que tremem, e com a solidão e duas gatas como meus soldados, a lutar. Não por legado, não por glória ou vaidade, apenas por mim. Só. Só por mim: exército de um homem… Só!

E como acham que me sinto? Como o exército de um homem que luta sozinho, acreditando que um dia outros a ele se juntarão, identificados com sua luta, seja contra moinhos de vento ou gigantes, pouco importa, ou como o exército de um homem só, solitário, que, embora ainda acredite em seus pares, acaba percebendo que são eles… Moinhos de vento que acreditam serem gigantes… Ou seria o oposto?

Escrito e Publicado em 03/09/2024

Barata Cichetto, Araraquara – SP, é o Criador e Editor do BarataVerso. Poeta e escritor, com mais de 30 livros publicados, também é artista multimídia e Filósofo de Pés Sujos. Um Livre Pensador

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