(À “Psicologia de Um Vencido”, de Augusto dos Anjos)
PRÓLOGO
E eu, um pobre filho perdido do romantismo
Que abomino sobremaneira ao modernismo
Mas compus odes aos românticos modernos
Buscando a ira nas hostes dos poetas eternos.
Embarco agora nas hordas do poeta apodrecido
Compondo uma ode à Psicologia de Um Vencido
Pois se acaso merece um Poeta uma ode concreta
Merece também um poema de adoração secreta.
E justo eu, que nunca fui à escola do Professor
E jamais o tratei com reverência de confessor
Sinto o mistér de tratar da homenagem honesta
Ao poema que trata da morte orgânica funesta.
E na dimensão cósmica de inorgânica frialdade
Trato a dor da humanidade com total crueldade
E do monstro da escuridão da gênese da infância
Recolho as vísceras com nojo e total repugnância.
O POEMA DO POEMA
Eu, filho de decassílabos e do esquema rítmico frígido
Rutilante poema do poeta professor de línguas rígido
Petulante tema a tratar da decomposição da artéria
Discorro sobre verme e a dor, epigênese da matéria.
E profundissimamente monstruoso e repugnante
Na escuridão sofro desde uma infância ignorante
A influência dos signos das psicologias vencidas
Que ao carbono e amoníaco foram apodrecidas.
Já o verme, poeta das ruínas, desconstrutor operário
Reina nas carnificinas, langue imperador temerário
E nas profundezas da terra, rói as carnes dos poetas
Em patéticas guerras indiferentes a sinas de profetas.
Anda agora ao reparar meus olhos e seus ouvidos
Que quando declaro ser a psicologia dos vencidos
Haverão de deixar apenas meu apelo e hipocrisia
E não haverá na Terra nada tão vivo que a Poesia.
EPÍLOGO – O POEMA AO POETA
Agora que Eu, outro filho do amoníaco e do carbono
Herdeiro da dor dos poetas e dos Anjos do abandono
No auge da minha prepotência ouso falar de Augusto
Busco na incerteza de ser poeta a certeza de ser justo.
E eu, que renego, que desestabilizo a poesia imoral
Também falo da falência da existência e da moral
E se a existência da hipocondríaca espécie humana
De mim dependesse, a deixaria morrer desumana.
E eu, que tenho o negativismo de meu interior lírico
Desalojo do meu pensamento tudo que é empírico
E permito que minha fome de um verme hediondo
Cause mais dores que um enxame de marimbondo.
Mas agora que Eu, o rude poeta de veia anomalística
Que nunca aprendeu sobre tua exogamía linguística
Termino como quem na solidão “assistiu ao formidável
Enterro da tua última quimera”, a ingratidão miserável.
20/06/2013
Psicologia de Um Vencido
Augusto dos Anjos
Eu, filho do carbono e do amoníaco,
Monstro de escuridão e rutilância,
Sofro, desde a epigênese da infância,
A influência má dos signos do zodíaco.
Profundissimamente hipocondríaco,
Este ambiente me causa repugnância…
Sobe-me à boca uma ânsia análoga à ânsia
Que se escapa da boca de um cardíaco.
Já o verme — este operário das ruínas —
Que o sangue podre das carnificinas
Come, e à vida em geral declara guerra,
Anda a espreitar meus olhos para roê-los,
E há-de deixar-me apenas os cabelos,
Na frialdade inorgânica da terra!
Memórias Arrependidas de Um Poeta Sem Pudor
(Antologia Poética, de 1978 a 2025)
Barata Cichetto
Gênero: Poesia
Ano: 2025
Edição: 4ª
Editora: BarataVerso
Páginas: 876
Impressão: Papel Pólen 80g
Capa: Dura
Tamanho: 16 × 23 × 5,2 cm
Peso: 1,50
Brindes Incluídos:
2 Marca-páginas da Poetura Editorial;
1 Marca-página BarataVerso em couro, feito pela Cerne, de Rancharia, SP;
2 Adesivos do BarataVerso;
2 Adesivos da Poetura Editorial.
Barata Cichetto, Araraquara – SP, é o Criador e Editor do BarataVerso. Poeta e escritor, com mais de 30 livros publicados, também é artista multimídia e Filósofo de Pés Sujos. Um Livre Pensador.