Atualizado em: 25/08/2024, as 06:08
Era Dia dos Pais, e acordei resignado, tanto pelos pequenos desastres recentes, como o prejuízo financeiro por ter perdido um monitor e uma placa-mãe de PC em três dias, quanto pelos mais antigos, como o fato de que, há anos, meus filhos não apenas não falam comigo, mas passaram a publicar pelo mundo suas biografias sem nenhuma referência à minha indigníssima pessoa. Há tempos, não lamento mais sobre isso e aprendi a não sentir saudades. Eu os criei e eduquei da melhor maneira que soube, sempre considerado pelos familiares como liberal demais e, posteriormente, por eles, como um ditador. Certo, são apenas pontos de vista deles, mas, pelo meu, não fui nem uma coisa nem a outra. Como minha educação paterna foi na base da porrada e do “não” pelo “não”, pensei que eu não sabia o que era ser pai, mas sabia como não ser. E esse “não ser” era exatamente ser o oposto do que meu pai foi.
É… Meu pai… Que morreu há cerca de duas semanas e não me causou qualquer emoção, nenhuma tristeza no coração. Não falo isso com orgulho nem rancor; apenas não onero nem venero a quem não sinto qualquer pesar. Não compareci ao seu velório nem à cremação, e se não festejo, também não há em mim nenhuma dor, e não tenho pudor em falar.
Sei também que meus filhos, com a maldade alimentada, a mentira contada e a verdade deturpada por quem passaram a venerar e cultuar como deuses e deusas, têm de mim o mesmo pensamento, embora eu tenha certeza de que em nada se assemelham as duas paternidades, a minha e a de meu pai.
Mesmo assim, sei que, pela ótica distorcida e inverídica, deturpada e manipulada que lhes foi mostrada, eles teriam a mesma reação. E, quando eu também morrer, agirão da mesma forma que eu agi em relação ao meu pai. E, com certeza, por todos os pontos de vista, tanto dos que acreditam em algo, algum tipo de vida, no qual eu não acredito, quanto para a tranquilidade deles próprios, não precisarão sofrer com aquela merda chamada saudades. Também não os condeno, não por ser magnânimo, mas porque os entendo como tolos ingênuos, ou apenas como seres de mente estreita e preguiçosa, prato feito para a lavagem cerebral que as esquerdas adoram colocar em suas máquinas de moer carne. Acreditaram em conceitos e pessoas que perceberam suas fragilidades e as transformaram em ódio ou, pior que isso, em total desprezo e esquecimento por tudo o que fiz e lhes dei.
Era Dia dos Pais, mas nunca dei valor a essas datas, embora sempre tenha comemorado em conjunto e por respeito a quem as adotava. Claro, fiquei muito feliz quando um filho, que me adotou pelo que sou e pelo que faço, mandou-me mensagem e ligou.
É, era Dia dos Pais, e eu nem lembrei de ficar triste, por saudades de filhos e pai. Tenho minhas filhas felinas, que amo mais do que qualquer outra relação entre humanos, pois com elas, minha relação é de homem com deusas. Elas são minhas mães e minhas filhas; sou seu pai e seu filho. Elas são tão idosas quanto eu, e decerto, quando eu for embora para sempre, elas sentirão muita falta. Gatos sentem saudades? E Deusas? Só sei que elas são a única companhia que realmente aprecio. O restante da espécie humana, tolero, assim como sei que ocorre dos outros para comigo.
E assim, tentei não pensar nos meus pequenos desastres e perdas, que vão muito além de peças de computador que me impedem de trabalhar, de escrever, exercendo o meu mais necessário ofício, que é o de escrever; nem pela solidão que sinto sem querer. Não pelo desprezo, não pelas dores da idade, não pela ausência da felicidade, não por nada, nem por tudo. Mas o que tento não pensar, sobretudo, não é pelos “nãos” que me disseram, mas pelos “sins” que eu disse.
11/08/2024, Dia dos Pais
Barata Cichetto, Araraquara – SP, é o Criador e Editor do BarataVerso. Poeta e escritor, com mais de 30 livros publicados, também é artista multimídia e Filósofo de Pés Sujos. Um Livre Pensador.
Hoje chorei. Minha Rainha Felina, minha Deusa se foi!