Ah, mas, quanto eu queria ser um escritor moderno
Ter obras publicadas em capas-duras, autor eterno!
Ah, quanto eu queria ser um poeta e um compositor
Não num supermercado de almas apenas o repositor.
Componho poemas que são gritos ou gemidos, certo?
Minhas obras não são primas ou irmãs, sou incorreto
Canto porque escuto e escuto o que não quero agora
Porque minha proprietária é a paixão, ela é a senhora.
Queria mesmo era declamar poemas em teatros lotados
Mas apenas pelas telas luminosas, de leitores bitolados
A minha poética encontra morada e mentes sem mentir
Sou poeta sim, mas a poesia, ela eu cumpro sem sentir.
Um grito é um grito mesmo em uma multidão barulhenta
Portanto eu grito porque meu silencio ninguém aguenta
Mas o silêncio é indiferente em uma imensidão silenciosa
E meu grito é minha poesia, pobre, infame e pretensiosa.
Quando aquele poeta morreu ninguém soltou fogos
E as crianças não interromperam brincadeiras e jogos
Porque Poesia não merece lágrimas nem comemoração
E um minuto de silêncio é apenas à heróis sem adoração.
Poesias são feitas da matéria em estado bruto da saudade
Musas da incandescente matéria dos sonhos de liberdade
Meu nome e sobrenome em capas de brochuras, a glória!
Certo, faço apenas a minha, mas estarei em sua história.
A inspiração caminha longe torta e bêbada esquecida de mim
Tenho poemas escritos em pedras, jorra meu sangue carmim
Acorda amada, enquanto dormes o dia não começa, Senhora
O café forte e meus pesadelos estão distantes de mim agora.
Um tempo, em que chumbo era a cor e gelada a temperatura
Fui abandonado, era apenas um ser, uma pálida e oca criatura
Ah, amada, quero apenas escutar as estrelas de suas pernas
Colares de hematitas em meu pescoço, as pedras são eternas.
Um dia sonhei que era uma barata e acordei sujo de merda
Barata come qualquer coisa, por isso que a Terra ela herda
Mas eu não quero a eternidade, nem ser Deus e nem Blatea
Apenas de minha arte ter o aplauso não escárnio da plateia.
Não declamo em teatros lotados de velhas de sedosas saias
Chá das cinco, nem bebo cervejas debaixo de apupos e vaias
Não sou Buk ou Oscar, e não quero causar escândalo nem dor
Minha arte é a poesia e não desejo o financiamento do ditador.
Buk não sabia rimar, e a maioria não consegue entender as rimas
Mas rimar é o mesmo que transar com a mãe ou comer as primas
Édipo morreu e não quero declamar minhas poesias no esgoto
Lugar de barata é na sarjeta e não quero ser um bicho escroto.
Feito pintores da antiguidade empresto minha arte aos nobres
Mas, entretanto não recebo por elas nem pratas e nem cobres
Quadros em telas que pinto têm suas tintas muito fortes
Letras desenhadas em papel falando das minhas mortes.
Minha poesia é grito, tal sirene de uma ambulância
Tentando furar o semáforo das almas da ignorância
Bombeiro tentando chegar antes do incêndio criminoso
Mas o crime não compensa e poeta é um ser mentiroso.
Porque não calar, seu estúpido! Porque não calas, agora
Mas o silêncio não é das coisas que o Poeta mais adora
Ao esgoto com sua Poesia, falou o Político sem piedade
Joguem ao lixo sua Poesia, proclamou El Rei da Maldade.
E monitor de computador não é lugar de Poesia, seu tolo!
Ninguém sente, muito leram, mas existe a culpa e o dolo
Nem na sarjeta, nem nas esquinas, o lugar é na biblioteca
Que agora cedeu lugar aos ratos que lhe cobram hipoteca.
Não existem teatros sem piada e não gosto de humoristas
Bares lotados de bêbados não são lugar de poetas-artistas
Portanto, permaneça então empoeirada minha poética idiota
Enquanto não pagar juros de mora ao banqueiro e ao agiota.
Poesia é a arte dos tolos, mas também a arte dos justos
Então paguem à vista, porque à prazo tem outros custos
Quero berrar poesias, declamar poemas, vomitar meu ódio
E soltar peidos fedorentos, igual atleta que chega ao pódio.
Estou chegando ao final, mas sempre recomeço depois do fim
Não existe final porque é apenas um filme, uma história enfim
E tem horas que penso que não existo, sou apenas personagem
Criado a minha própria semelhança, aparência, apenas imagem.
21/7/2008
Memórias Arrependidas de Um Poeta Sem Pudor
(Antologia Poética, de 1978 a 2025)
Barata Cichetto
Gênero: Poesia
Ano: 2025
Edição: 4ª
Editora: BarataVerso
Páginas: 876
Impressão: Papel Pólen 80g
Capa: Dura
Tamanho: 16 × 23 × 5,2 cm
Peso: 1,50
Brindes Incluídos:
2 Marca-páginas da Poetura Editorial;
1 Marca-página BarataVerso em couro, feito pela Cerne, de Rancharia, SP;
2 Adesivos do BarataVerso;
2 Adesivos da Poetura Editorial.
Barata Cichetto, Araraquara – SP, é o Criador e Editor do BarataVerso. Poeta e escritor, com mais de 30 livros publicados, também é artista multimídia e Filósofo de Pés Sujos. Um Livre Pensador.
Estranhamente, a “imensidão silenciosa” inspira.
Não há nada mais inspirador.