O Anjo da Escuridão

(Para Jimmy Page)

E quando Deus disse: “Faça-se a Luz!”, a inteligência foi feita e a luz apareceu.

Ora, a inteligência de Deus tomou a forma de um anjo esplêndido e o céu o saudou com o nome de Lúcifer.

Ele sentiu-se livre, porque Deus assim o tinha criado.

E respondeu ao Criador, levantando a cabeça e estendendo as suas asas:
— Lúcifer: Não serei a escravidão!
— Deus: Será pois, a dor?
— Lúcifer: Não… Serei a Liberdade!
— Deus: O orgulho te seduzirá e produzirá a morte!
— Lúcifer: Tenho necessidade de lutar contra a morte para conquistar a vida…

Deus, então, desprendeu do seu Trono o fio de esplendor que retinha o anjo soberbo e, vendo-o lançar-se na noite escura e profunda, amou o filho do seu pensamento e, sorrindo com inefável sorriso, disse a si mesmo: “Como a luz é bela“.

A negação do anjo que, ao nascer, recusou ser escravo, constituiu o equilíbrio do mundo dos homens, e o movimento das esferas começou.

E os espaços infinitos admiraram este amor da liberdade, tão imenso para encher o vácuo da noite eterna e tão forte para suportar o ódio de Deus.

Mas Deus não podia odiar o mais nobre de seus filhos…

Por isso, Jesus, como por ciúmes de Lúcifer, quis descer do céu e atravessar triunfalmente as sombras do inferno.

Quis ser proscrito e condenado; e meditou a hora terrível em que exclamava no extremo de seu suplício:
— Deus meu, por que me abandonaste?

Como a estrela da manhã nasce antes do Sol, a rebeldia de Lúcifer anunciou ao mundo a próxima encarnação de Deus, que seria Jesus, seu irmão.

Talvez Lúcifer, caindo na noite eterna, tenha arrastado uma chuva de sóis e estrelas por atração da sua glória, onde os Anjos ainda se curvam diante do mais insolente Arcanjo, filho dos Céus…

Lúcifer, outrora chamado Estrela da Manhã!

(Inspirado no Texto de Eliphas Levi, Século 19)