Você é muito calmo para um criminoso honesto, tem a espinha ereta, consegue conjugar o futuro do presente do verbo morrer com uma dignidade cívica de causar inveja aos plebeus do Reino de Alcântara. Talvez os mortos só saibam falecer sem alardes, sem lhe reverenciar autoria, sem qualquer qualidade de magistral cunho poético. Talvez o silêncio lhe ofenda o ego e o falo, sem que testemunhas oculares lhe rendam as graças e as carpideiras lhe honrem o nome.
Alguma vez o glorificaram com tanta veemência nesse traço de personalidade? Renderam-lhe méritos ou condecorações de gala? Deram-lhe um ar de supremacia santa? Enquanto seus dentes obtusos sugaram, além do sangue das vítimas, desonraram o corpo e a lápide a que lhes eram destinados. Alguma vez o condenaram ao inferno premeditadamente? Afinal, o rigor mortis inicia-se, em média, de 2 a 3 horas após a morte e se espalha para todos os músculos do corpo entre 6 a 12 horas, podendo ficar completo entre 18 a 36 horas e decaindo entre 24 a 50 horas, na ordem em que se iniciou. Não cabem urgências e filantropias em passamentos provocados.
Pressa é ato falho, derivativa, descoordenada, afluxo, fábula, antítese, conto, caraminhola, abstração, enredo de preguiçoso. Quando a mão cirúrgica corta a artéria, sangra, escorre, lava o chão, lava a terra, segue pelo ralo, pela sarjeta — é oferenda ao inferno do adeus.
Você é muito calmo, muito calvo, para um criminoso de veste negra e olhos de fim.
Estupendo, Lu!
Tudo tem seu tempo, com o devido fim ou ponto final. Até lá, o julgamento do julgador será feito, de modo que o encontro com a verdade será implacável. Aguardemos o veredicto.