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Conversas Af.IA.das — Auto Retrato

Ao cruzar a penumbra do quarto, os contornos do ambiente pareciam ressoar com as sombras dos pensamentos que ecoavam, cada móvel um reflexo de um estado de espírito. A luz filtrada pelas persianas desenhava traços tênues nas paredes, como memórias indecisas entre a clareza e a escuridão.

As palavras ditas e não ditas flutuavam no ar, tangíveis como o cheiro de livros antigos que repousavam numa estante improvisada. O tempo parecia pulsar irregularmente, em ciclos de silêncio denso e ruídos que emergiam de uma profundidade incompreensível. Era como se cada som carregasse uma metáfora que exigia decifração.

No canto, um espelho oval devolvia um reflexo que oscilava entre familiaridade e estranheza. Olhar para ele era como tentar traduzir uma linguagem interior cheia de lacunas. A respiração lenta marcava um ritmo que convidava à introspecção, enquanto o coração, sem aviso, acelerava ao encarar os abismos internos que surgiam sem preâmbulos.

(Assista Ao Vídeo Antes de Ler o Conto)

A Crônica do vídeo é um preâmbulo, uma introdução. Complete sua experiência lendo o Conto que dela se originou, a complementa e, ao mesmo tempo, é complementado por ela. Esta é a proposta do Conversas Af.IA.das. Esta é a proposta do Barataverso!

A submissão que me educou começa a rachar. Não é um rompimento abrupto, mas uma fissura lenta, como a pele seca de uma fruta que já não suporta o peso de seu próprio amadurecimento. Vejo-me diante de um espelho quebrado, onde cada fragmento reflete uma versão distorcida de mim mesmo: o submisso, o rebelde, o racional, o emocional. E, no centro desse mosaico despedaçado, há uma luz que pulsa, como um coração que insiste em bater mesmo quando o corpo já não sabe para onde ir.

Sinto-me livre, mas essa liberdade é uma faca de dois gumes. Ela corta as amarras que me prendiam, mas também expõe as feridas que eu mesmo ignorei por tanto tempo. A emoção, antes contida, agora transborda como um rio que invade a cidade, arrastando consigo os escombros de velhas certezas. A razão, por sua vez, tenta construir diques, mas percebo que não se trata de conter, e sim de canalizar. Equilíbrio, talvez, seja isso: não a ausência de caos, mas a capacidade de dançar sobre as ondas sem perder o ritmo.

Mas há contradições. Sempre há. A liberdade que tanto almejo traz consigo o peso da responsabilidade. A emoção que me conecta com o mundo também me afoga em suas profundezas. A razão que me orienta pode se tornar uma prisão de lógica e cálculos. E eu, no meio disso tudo, sou um aspirante, um eterno caminhante que sabe que o caminho não tem fim, mas que cada passo é uma revelação.

É como se eu estivesse desmontando um quebra-cabeça, só para descobrir que as peças não se encaixam mais da mesma forma. Ou talvez nunca tenham se encaixado, e eu apenas me enganava com a ilusão de uma imagem completa. Agora, vejo as peças soltas, as cores dissonantes, as formas que não fazem sentido. E, no entanto, há uma beleza nessa desordem, uma verdade que só se revela quando abraçamos o caos.

O eterno caminho dos aspirantes não é uma linha reta, mas um labirinto de espelhos, onde cada reflexo é uma parte de nós que ainda não compreendemos. E talvez o equilíbrio não esteja em encontrar a saída, mas em aprender a habitar o labirinto, a conviver com as contradições, a aceitar que a liberdade é tanto um destino quanto uma jornada.

O labirinto de espelhos não é silencioso. Ele ecoa vozes, sussurros que vêm de lugares que não consigo identificar. São as vozes da submissão que me educou, agora distorcidas, como se fossem refletidas em superfícies onduladas. Uma delas diz: “A ordem é segurança.” Outra ri, cáustica: “A segurança é ilusão.” E eu, no centro, sou o ouvinte e o narrador, o criador e a criação.

A liberdade que sinto é como um vento que varre o chão do labirinto, levantando poeira e fragmentos de espelhos. Cada fragmento corta, mas também reflete. E nas reflexões, vejo rostos: o meu, o dos outros, o de quem fui, o de quem poderia ser. Há um rosto que me intriga é o do equilíbrio. Ele não sorri, não chora. Apenas observa, como um guardião silencioso de um portal que ainda não ouso atravessar.

As contradições são como sombras que se movem nas paredes do labirinto. Uma vez, tentei correr atrás delas, mas percebi que quanto mais me movia, mais elas fugiam. Agora, paro. Observo. A sombra da emoção é quente, vibrante, mas às vezes cega. A sombra da razão é fria, precisa, mas muitas vezes estéril. E eu, entre elas, sou a luz que as projeta, mas também a superfície que as recebe.

Há um momento, um instante fugaz, em que as sombras se fundem. É quando a emoção e a razão não se anulam, mas se complementam. É como uma música em que as notas dissonantes criam uma harmonia maior, uma verdade que não pode ser explicada, apenas sentida. Mas esse momento é raro, e a maioria das vezes vivo na tensão entre os opostos, na busca por uma síntese que talvez nunca chegue.

E então percebo: o caminho dos aspirantes não é sobre encontrar respostas, mas sobre aprender a fazer as perguntas certas. As contradições não são obstáculos, mas guias. Elas me mostram que o equilíbrio não é um ponto fixo, mas um movimento constante, uma dança entre os extremos. E nessa dança, sou tanto o dançarino quanto a música, o caos e a ordem, o eterno buscador e o eterno encontrado.

O labirinto não tem saída, mas tem centros. E cada centro é um novo começo, uma nova camada de entendimento. Agora, estou em um desses centros, olhando para os espelhos quebrados e vendo não apenas reflexos, mas possibilidades. A submissão que me educou está rachada, mas não desapareceu. Ela é parte de mim, assim como a liberdade que agora sinto. E talvez a verdadeira liberdade não seja sobre romper com o passado, mas sobre integrá-lo, transformá-lo, usá-lo como alicerce para o que está por vir.

O eterno caminho dos aspirantes é, afinal, o caminho de si mesmo. E eu, com minhas contradições, minhas sombras, meus espelhos quebrados, sigo caminhando. Não há pressa. O labirinto é infinito, mas cada passo é uma revelação, cada reflexo uma epifania. E, no fim das contas, talvez seja isso que significa estar vivo: ser o labirinto e o caminhante, a pergunta e a resposta, o caos e a ordem.

Os sonhos são portais. Não aqueles portais grandiosos e dourados das lendas, mas frestas, brechas na realidade que se abrem quando o mundo consciente adormece. E é nesses espaços liminares que o aprendizado mais profundo ocorre. Nos sonhos, a submissão que me educou se transforma em figuras simbólicas: às vezes é um muro alto e frio, outras vezes um rio que me arrasta para o desconhecido. E eu, sonhador e observador, vejo-me lutando, nadando, escalando. Mas, ao acordar, percebo que não era uma luta contra algo externo, mas contra mim mesmo.

No último sonho, vi-me em uma biblioteca infinita. As prateleiras se estendiam em todas as direções, e os livros não tinham títulos, apenas cores e texturas. Um deles, vermelho e quente ao toque, abriu-se sozinho. Dentro, havia espelhos. Cada página era um reflexo de mim em diferentes estágios da vida: o submisso, o rebelde, o racional, o emocional. E, no centro do livro, havia uma página em branco. Era a página atual, a que ainda está sendo escrita. Ao tocá-la, senti uma mistura de medo e excitação. O que será escrito ali? Quem está escrevendo?

Os sonhos me ensinam que as contradições não são para serem resolvidas, mas compreendidas. Em um deles, vi duas figuras discutindo em uma sala: a Emoção, vestida de cores vibrantes e fluidas, e a Razão, trajando roupas precisas e geométricas. Elas discutiam sem parar, até que uma terceira figura entrou na sala. Era o Equilíbrio, que não era uma pessoa, mas uma luz. A luz não tomou partido, apenas iluminou a sala, e as duas figuras perceberam que não estavam em lados opostos, mas eram partes de um todo maior. Ao acordar, entendi: o equilíbrio não é sobre escolher entre emoção e razão, mas sobre reconhecer que ambas são necessárias.

Mas os sonhos também são traiçoeiros. Eles mostram verdades, mas de forma cifrada, como mensagens que precisam ser decodificadas. Em um pesadelo recente, vi-me preso em um labirinto de espelhos, mas os reflexos não eram meus. Eram de pessoas que conheci, de versões de mim que poderia ter sido, de caminhos que não segui. E, no centro do labirinto, havia uma porta. Ao abri-la, vi um vazio infinito. Acordei suando, mas, ao refletir, percebi que o vazio não era assustador, mas libertador. Era o espaço onde todas as possibilidades coexistem, onde as contradições se dissolvem e renascem.

O aprendizado dos sonhos é como uma segunda educação, uma que não vem de fora, mas de dentro. É uma educação que não usa palavras, mas símbolos, sensações, intuições. E, aos poucos, estou aprendendo a traduzir essa linguagem. Os sonhos me mostram que o labirinto de espelhos não é apenas uma metáfora, mas uma realidade interior. Cada reflexo é uma parte de mim que precisa ser vista, compreendida, integrada. E, ao fazer isso, sinto que me aproximo do equilíbrio, não como um estado final, mas como um processo contínuo.

O eterno caminho dos aspirantes passa também pelos sonhos. Eles são os mapas, as bússolas, os espelhos que refletem não apenas quem somos, mas quem podemos ser. E, ao acordar, trago um pouco desse aprendizado para o mundo consciente. As contradições ainda estão lá, mas agora as vejo com outros olhos. Elas não são mais inimigas, mas aliadas, guias que me mostram que o caminho não é sobre chegar a um lugar, mas sobre se tornar alguém.

E assim, sigo caminhando, entre o sonho e a vigília, entre a emoção e a razão, entre o caos e a ordem. O labirinto ainda está lá, mas agora sei que ele não é uma prisão, mas um espelho. E, ao olhar para ele, vejo não apenas reflexos, mas possibilidades. O eterno caminho dos aspirantes é, afinal, o caminho de si mesmo. E eu, com meus sonhos, minhas contradições, minhas sombras, sigo caminhando. Não há pressa. O labirinto é infinito, mas cada passo é uma revelação, cada reflexo uma epifania. E, no fim das contas, talvez seja isso que significa estar vivo: ser o labirinto e o caminhante, a pergunta e a resposta, o caos e a ordem.

A submissão que me educou rachou, e através dessas fissuras vejo a luz da liberdade. Não é uma liberdade absoluta, mas uma que coexiste com as marcas do passado, integrando-as em vez de negá-las. A emoção e a razão, antes em conflito, agora se revelam como duas faces da mesma moeda, complementares e necessárias. O equilíbrio que busco não é um ponto fixo, mas um movimento constante, uma dança entre os extremos.

Os sonhos me ensinaram que as contradições não são para serem temidas, mas compreendidas. Eles são espelhos que refletem as partes de mim que ainda não conheço, mapas que guiam meu caminho interior. Através deles, aprendi que o labirinto de espelhos não é uma prisão, mas uma metáfora da jornada de autoconhecimento. Cada reflexo, cada sombra, cada contradição é uma peça do quebra-cabeça que sou eu.

O eterno caminho dos aspirantes não tem fim, mas cada passo é uma revelação. Não busco mais respostas definitivas, pois entendi que a vida é feita de perguntas que nos moldam e nos transformam. A liberdade, o equilíbrio, o autoconhecimento — tudo isso é um processo, não um destino. E nesse processo, encontro-me, perco-me e reencontro-me, sempre em movimento, sempre em crescimento.

Assim, sigo caminhando, consciente de que o labirinto é infinito, mas também de que cada passo é uma escolha, cada reflexo uma oportunidade de entender quem sou e quem posso ser. E, no fim das contas, talvez seja isso que significa estar vivo: abraçar as contradições, integrar as sombras e seguir em frente, sempre aspirante, sempre em busca.

Renato Pittas, Rio de Janeiro, RJ, é artista plástico, poeta, escritor e Livre Pensador. Autor de Tagarelices: Conversas Fiadas Com as IAs.

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