Estamos todos mortos de silêncio, hoje, quinta, depois de segunda, antes da missa, do banho, do sono, do pesadelo, do sonho, antes de acordar, antes sequer de deitarmos os corpos em ataúdes, antes da cremação, da danação, da passagem dos fatos, antes do óbito, do parto, da cesárea agendada, antes das regras, do gozo, do aborto, do obsoleto e do necessário.
Morremos todos de voz cortada sob os signos do inferno, sem que se tenha o verbo emitido diante da sentença, do Ladrão em livramento, da devolução do erário roubado, diante das urnas fraudadas, da eleição delituosa, diante do pânico, das mentiras dos jornais, da execução nas ruas, das prisões de janeiro, diante do assalto e do confinamento.
As cordas vocais ausentes, nada dizem a vento nenhum, inservíveis, insensíveis, coniventes. Extirpado assim, o verso e a reza, o som de desagrado, da não concordância, da revolta e do repudio, tudo, entalado na garganta que não fala, não diz, não benze nem amaldiçoa os malditos.
Estamos todos mortos de silêncio, hoje, quarta, depois de domingo, antes que este inócuo e inconveniente poema finde, antes que o ponto final se estabeleça, antes que possamos acordar as estrelas e o próprio silêncio.
Mortos e soterrados de silêncio.
Nossas dores expostas e paradoxalmente blindadas em poema.
👏👏👏excelente
É sempre bom ler teus escritos minha amiga. Daria um livro físico excelente
Sempre digo é sempre bom ler teus escritos minha amiga