Atualizado em 07/08/2024 as 20:06:07
Ontem lhe pedi que falasse de mim numa noite funesta. Mas foi de forma simples e honesta. Porque todas as nossas noites foram de festa. E porque sempre entendi muito mais do que pretendi, que ao falar de mim, era sobre ti a conversa. Vesti-me de ti num romance. Travesti-me de você à vossa mercê. Vesti-me de puta, de astuta, e nunca maldisse tua conduta, mesmo porque, tenha sido eu amante da crente e da prostituta. Não pedi por vaidade, por egoísmo e nem mesmo por hedonismo. Apenas pelo sofismo, de conhecer teu catecismo, e rezar na tua sagrada escritura, abaixo de minha estatura, e além de tua escultura. Lembrei apenas de te recordar maneira que eu tinha de acordar. Encochando tua bunda, e na tua mais imensa e profunda solidez me afundar. Lembrei-me da tua perfídia profundidade, relembrei da promiscuidade, e como se não bastasse, me arvorei em tua identidade. Na liquidez da tua vontade, na embriaguez da tua liberdade, e sem dolo nem maldade, edifiquei uma construção, longe do frio e do rio da Verdade. Goteijei-lhe meu esperma, dei-lhe minha poesia eterna. Decerto neguei-lhe muita coisa fraterna, quando manquei de uma perna. É certo que rejeitei toda tua maledicência, mas não por ausência, mas por inexistência de uma ambivalência. Foda-se a audiência, disse eu, porque assim pedia minha experiência. Associei-te ao Marquês, te perdi ao burguês, e assim de mim mesmo me tornei, dono e freguês, da minha própria freguesia. E te fiz poesia, quando merecia o tudo que eu não sabia dar. Agora peço perdão e desculpas, não pelas minhas, mas por tuas culpas. Que nunca acreditei serem criminosas nem dolosas, apenas culposas, perante uma lei nunca escrita, jamais descrita, mas que há quem acredita que seja maldita. A filha caída, a irmã prostituída , mas sempre aquela que nunca foi possuída, pelo demônio da falsidade, que em verdade, é quem reina na humanidade. E quero agora, perante a minha nada eternidade, pedir perdão pela minha falta de desonestidade, diante de quem falou de mim em silêncio, me deixando calado diante de tanta majestade, e te prometo, que no nada da minha eternidade, te farei a vontade, e a elegerei como minha única santidade.
11/06/2024
Música: Arnaldo e A Patrulha do Espaço: “Curte o Meu Barato (Sr. Empresário)”
Barata Cichetto, Araraquara – SP, é Criador do BarataVerso. Poeta e escritor, com mais de 30 livros publicados, também é artista multimídia e Filósofo de Pés Sujos. Um Livre Pensador.