Estamos em agosto de 2024, talvez o mês mais quente no Norte do País. O oitavo mês do ano é também o das queimadas na Amazônia, e a fumaça resultante delas empestam ao ar das cidades, especialmente o da maior delas: Manaus. Desta vez, como o presidente genocida/misógino/fascista/nazista/autoritário não está mais no poder, e sim, um velhote que foi tirado da prisão em razão de uma série de manobras judiciais e políticas, um anão megalomaníaco que ainda é capaz de encantar serpentes, embora ele próprio ter dito, na época em que se cogitava sua ida para a prisão, que a “jararaca estava viva”. Pois bem. A jararaca não está apenas viva, mas solta, espalhando seu veneno e produzindo vítimas, apesar de haver prometido governar com amor. Convém observar que o amor está no ar, apesar das disposições em contrário. Em apenas um ano e oito meses desde a sua posse, o Pai dos Pobres está levando o país à ruína. Isso é o que dizem os números da economia. Quanto ao resto, nem é preciso dizer muito: O Brasil é uma nação rachada ao meio, e o remendo não é para agora.
Como não consigo desviar minha atenção do que acontece na Venezuela, na qual, segundo a jararaca amorosa “há democracia até demais” me vejo obrigado a recordar e, obviamente, consultar uma matéria jornalística publicada em 2018, cujo título dizia: “Vamos tomar o poder, que é diferente de ganhar a eleição”, diz José Dirceu”. Na ocasião, a fala do ex-guerrilheiro, também um ex-presidiário como seu chefe, deu o que falar. Entretanto, as consequências para o ex-chefe da Casa Civil do primeiro governo Lula da Silva foram praticamente nulas. Na matéria, Dirceu declarou que: “É uma questão de tempo pra gente tomar o poder. Aí nós vamos tomar o poder, que é diferente de ganhar uma eleição”. A frase polêmica foi dita por José Dirceu ex-ministro e homem forte do governo Lula durante entrevista ao jornal El País quando questionado sobre a possibilidade de o PT “ganhar, mas não levar” as eleições.
A matéria foi publicada quando a campanha eleitoral de 2018 estava em curso, e o deputado federal Jair Bolsonaro era candidato a presidente da República, e que estava se recuperando do atentado à faca, cometido por um ex-militante do partido de extrema-esquerda PSOL, cujos mandantes ainda não são conhecidos. Na mesma matéria, o “Guerreiro do Povo Brasileiro” foi categórico: “Bolsonaro não ganha essa eleição”. Errou! De todo modo, em meio às profecias furadas e as óbvias (e toscas) defesas dos governos Lula e Dilma, a frase dita pelo homem que, nos tempos de clandestinidade adotara o apelido de Zé Caroço, ficou cravada na memória daqueles que abominam a ideologia cujo único propósito é submeter o país aos seus caprichos: sim, sejam quais forem os meios, o poder se toma.
Em 11.08.2021, o TSE-Tribunal Superior Eleitoral publicou uma nota de esclarecimento sobre um mal entendido (Fake News?) envolvendo o ministro Roberto Barroso, que teria dito que “Eleição em Roraima não se ganha, se toma”. A nota encerrou a polêmica levantada sobre uma fala descontextualizada do ministro Barroso. Mesmo falsa, a frase deu o que falar. Em tempos de acirrada polarização política, qualquer frase, por mais tosca que seja, pode redundar em um escândalo de grandes proporções.
No momento em que escrevo o presente texto, eis que, para surpresa de ninguém, a matéria publicada pelo site da BBC News Brasil publica que: “Tribunal alinhado a Maduro o declara vencedor da eleição e ameaça candidato da oposição com sanções”.
Para quem acompanhou a corrida eleitoral na Venezuela sabe que o vencedor das eleições naquela ditadura foi a oposição, à qual fora dada a “permissão” para concorrer “em pé de igualdade” com o ditador Nicolas Maduro, em um esforço para mostrar ao mundo que o país promoveu eleições livre e justas. Tudo balela. Nos dias que se seguiram ao 28 de julho, considerando as declarações da oposição, Maduro foi derrotado por larga margem, conforme atestaram as atas colhidas pela oposição nos locais de votação. Por outro lado, como a máquina do Estado fortemente aparelhada pelo regime chavista, ela controla, entre outras instituições, o CNE-Conselho Nacional Eleitoral, a suprema corte, as forças armadas, a polícia, bem como todos os demais órgãos de repressão. Em outras palavras, Maduro tem a faca, o queijo e o rato nas mãos. Os mais de 1500 presos são a prova viva da voracidade do regime.
Enquanto isso, no Brasil, o governo Lula tenta, por todos os meios disponíveis, apoiar, ainda que de modo enviesado, a “vitória” do ditador. Até o presente momento, o “governo do amor” ainda não se manifestou oficialmente, reconhecendo a vitória do ditador, não obstante os descalabros ocorridos na apuração dos votos. Cedo ou tarde, o governo brasileiro terá que tomar uma posição, com o máximo cuidado para não se sujar no fétido lamaçal chavista. Enquanto isso, a máquina repressiva do regime segue firma cortando cabeças, enchendo as prisões e exilando cidadãos. Enquanto isso, para Lula, na Venezuela está tudo “normal”, apesar das levas de refugiados que chegam ao estado de Roraima.
Ante o exposto, a ditadura Venezuela criou um modus operandi, que está sendo, guardadas as devidas proporções, copiado pelo atual governo amoroso, o qual, como se sabe, tem pressa para consolidar seu projeto autoritário no Brasil. Não é à toa que está em curso uma tabelinha com as altas instâncias do Poder Judiciário (sem falar no aparelhamento das demais instituições) para fustigar a oposição e amordaçar a imprensa, que não se rende ao canto da sereia petista.
O que se observa nesse triste cenário, é que o governo venezuelano se espelha nos atos dos tribunais superiores brasileiros para consolidar mais um período da sua ditadura, que vai vigorar de 2025 a 2031.
E as famosas atas? Ficarão trancadas “sob custódia” do governo. E quem não gostar que sofra as consequências.
Para finalizar, Luiz Inácio deve está muito feliz com a vitória de seu amigo Maduro. Se suas manobras surtirem efeito, quem sabe o Nove Dedos tome as próximas eleições em vez de vencê-las. Antes, porém, ele precisa tirar um certo capitão do caminho. Talvez ele consiga, talvez não.
Genecy Souza, de Manaus, AM, é Livre Pensador.
Possui textos publicados na revista digital PI Ao Quadrado e na revista impressa Gatos & Alfaces.