Imagem Criada Por IA

Segunda Epístola Aos Hipócritas

Meus caros e queridos hipócritas que aqui repousam
Afastem de minha alma a sua piedade, ainda ousam
Pousar seus olhos de falsa tristeza sobre minha mortalha
Beber do meu sangue entre goles de café e migalha
Contando péssimas piadas do mais pobre humor negro
Enquanto o padre reza uma oração tola em fraco grego.

Afastem sua caridade crente de minhas carnes sem deus
Desapareçam com sua cristandade, sumam daqui judeus
Retirem seus crucifixos pendurados com deuses mortos
Arrebatem ao seu céu seus demônios caídos e anjos tortos
Mandem ao inferno as suas lágrimas de inútil compaixão
Sumam-se com sua falsa dor, afastem-se de meu caixão.

Cumpram a sentença, disse o Juiz, executem esse que hoje luta
Sim, Meritíssimo, cumpramos imediatamente, disse a bela puta
Arranquem-lhe a língua, disse o executivo em seu carro blindado
Executem-no com três balas de canhão de ouro, gritou o soldado
Que falta de companheirismo, disse a aquela pobre vagabunda
Deixem-no morrer a míngua, disse o advogado sobre a bunda

Ah, mas eu queria tanto falar sobre o que eu sinto hoje e agora,
Mas a voz me falta, me falta o tesão, o meu tesão, minha senhora
Ah quanto eu queria erguer meu corpo deste caixão e gritar bem alto
Fodam-se todos vocês, hipócritas malditos que me tomaram de assalto
Danem-se, desgraçados, malditos e vadias que tomaram minha vida
Assassinos, sumam, deixem-me, que a minha morte agora está servida.

Ah, como vocês são tolos e fúteis, meus queridos e caros hipócritas nojentos
Imaginam poder aplacar sua culpa mordendo o rabo tal cães rabugentos
Meus olhos agora não enxergam, minha boca não sente nem os meus dedos
Comigo morrem todos os seus horrorosos e escabrosos de seus podres segredos
Eu não estou morto, mortos são vocês com vidas se arrastando pelos cantos
Mortos estão e são vocês, caros e hipócritas que derramam seus prantos.

Acabou, disse a inútil traidora, suma da minha frente, disse a vadia
Com seus olhos fúteis que ódio e frustração insanas sempre irradia
Queria agora, minha mais estúpida das damas do parque do engenheiro
Erguer meu corpo, erguer sua saia e comer sua bunda limpando com dinheiro
Mas deixa estar, minha traidora sem vergonha nem caráter que o teu calor
Ninguém nessa face de terra irá sentir, porque será sempre caro o seu valor.

Agora o poeta está morto e a traidora livre para o seu mundo de mentira tosca
O poeta apodrece e a traidora está liberta de sua condição de criatura fosca
Foda-se, disse o poeta ao apertar o gatilho da arma que estourou sua cabeça
Deixe-me ir embora antes que algum outro mal maior ainda lhe aconteça
Suma da minha frente, disse a rameira, que o único desejo que neste instante
È que apodreça sozinho num canto, cantando sua loucura em verso constante.

É, meus caros e queridos hipócritas, assassinos dos meus sonhos, que morram
Porque antes que minhas carnes sejam comidas, antes que líquidos escorram
Vocês também estarão mortos porque a dor que lhes imporei será tão forte
Que vocês implorarão ao seu deus ou demônio que lhes aliviem com a morte
Eu morto que sempre fui estarei vivo, enquanto vocês vivos serão apenas dor
Que aí lembrarão que um dia me mataram por prazer, carro, ou computador

Alegre-se, vadia, porque agora não precisará esconder sua bunda de mim
Sorria porque chegou finalmente o que sempre desejou, finalmente o meu fim
Não chore com essas lágrimas iguais as que chorou ao declarar sua traição
Lágrimas de cebola não são lágrimas, não fazem muito bem ao meu coração
Pode exibir sua bunda e seu desejo a todos que a quem você desejar e ensejar
Beije e deseje, deseje e beije todos aqueles que você sempre desejou beijar.

Corram putas, hipócritas e malditos, corram antes que o dia amanheça
Porque meu corpo ao baixar ao forno do crematório talvez ainda reconheça
Suas caras tortas de vergonha ou de risadas das piadas que contaram a noite
Então um a um cortarei com meu punhal, um a um castigarei com meu açoite
E já que estarão todos mortos eu lhes arrastarei ao forno e os verei queimar
Quanto queimou minha carne e alma, quanto queimou meu desejo de amar

17/02/2002

Memórias Arrependidas de Um Poeta Sem Pudor
(Antologia Poética, de 1978 a 2025)
Barata Cichetto
Gênero: Poesia
Ano: 2025
Edição:
Editora: BarataVerso
Páginas: 876
Impressão: Papel Pólen 80g
Capa: Dura
Tamanho: 16 × 23 × 5,2 cm
Peso: 1,50

Brindes Incluídos:
2 Marca-páginas da Poetura Editorial;
1 Marca-página BarataVerso em couro, feito pela Cerne, de Rancharia, SP;
2 Adesivos do BarataVerso;
2 Adesivos da Poetura Editorial.

Barata Cichetto, Araraquara – SP, é o Criador e Editor do BarataVerso. Poeta e escritor, com mais de 30 livros publicados, também é artista multimídia e Filósofo de Pés Sujos. Um Livre Pensador

COMPARTILHE O CONTEÚDO DO BARATAVERSO!
Assinar
Notificar:
guest

0 Comentários
Mais Recente
Mais Antigo Mais Votado
Inline Feedbacks
Ver Todos os Comentários

Conteúdo Protegido.
Plágio é Crime!

×