Atualizado em 04/08/2024 as 12:28:29
O cenário literário brasileiro é um campo de batalha onde os números frequentemente falham em capturar a riqueza e a diversidade do potencial criativo do país. Em vez de florescer como um espaço de inovação e reflexão, a literatura brasileira enfrenta uma realidade desoladora.
Os dados recentes revelam uma crise de leitura no Brasil. A média de livros lidos por ano por brasileiro é de cerca de 1,6, um número alarmante para uma nação com mais de 210 milhões de habitantes. A pesquisa “Retratos da Leitura no Brasil”, realizada pelo Instituto Pró-Livro, revelou que aproximadamente 56% dos brasileiros não leram um único livro no último ano. Esses números evidenciam uma crise profunda que está enraizada na realidade socioeconômica e na falta de incentivo à leitura e à educação.
Em contraste, países com altos índices de leitura per capita apresentam uma relação muito mais favorável entre seus cidadãos e a literatura. Na Finlândia, por exemplo, a média é de cerca de 7 livros por pessoa por ano. Com uma população de aproximadamente 5,5 milhões, a Finlândia se destaca pela sua infraestrutura de apoio robusto à literatura e à educação. Os finlandeses têm acesso a bibliotecas bem equipadas e a um sistema educacional que valoriza a leitura desde a infância.
Enquanto isso, no Brasil, o cenário é marcado por uma série de desafios que vão além do simples acesso a livros. A negligência com a literatura e a falta de valorização dos escritores são reflexos de uma desconexão profunda com a importância cultural e educacional da leitura. A crise de leitura no Brasil está ligada a fatores históricos e contemporâneos, incluindo a desigualdade socioeconômica, a falta de investimento em educação e a ausência de políticas eficazes de incentivo à leitura.
Os escritores brasileiros, especialmente aqueles fora dos círculos privilegiados, enfrentam uma batalha constante contra a indiferença cultural e a falta de apoio institucional. As iniciativas de autopublicação e os blogs muitas vezes servem como uma válvula de escape para esses autores, permitindo que compartilhem suas obras com um público limitado, mas engajado. No entanto, a falta de reconhecimento e a marginalização persistem, evidenciando um sistema que prioriza interesses políticos e financeiros em detrimento da qualidade literária. Existe uma grande quantidade de ótimos escritores no Brasil que morrem sem ter suas obras lidas senão por um círculo pequeno de amigos e parentes. Obras muitas vezes de excelente qualidade e de cunho literário importante, apenas por não fazerem parte ou não se venderem ao establishment cultural dominado pelas esquerdas e pela cultura woke.
Essa situação é um lembrete sombrio de que, apesar do potencial diverso e dinâmico da literatura no Brasil, ela enfrenta uma luta constante contra as barreiras impostas por um sistema que muitas vezes não valoriza a criatividade e a inovação. A literatura não deve ser um mero reflexo das conveniências culturais e políticas, mas uma força vital de resistência e reflexão.
O futuro da literatura brasileira é uma questão complexa e inquietante. Com o crescimento das redes sociais e a polarização política, a literatura pode estar à beira de um ponto de inflexão. A falta de investimento em educação e na promoção da leitura, combinada com um mercado literário dominado por interesses comerciais e políticos, coloca a literatura brasileira em uma posição precária. A perspectiva de um futuro onde a literatura seja reduzida a um reflexo das normas estabelecidas é um cenário distópico, onde a verdadeira criatividade e inovação podem ser comprometidas.
Neste contexto, é essencial uma renovada valorização da literatura e dos escritores, independentemente de suas afiliações políticas ou dos temas que abordam. A literatura deve ser um espaço de liberdade, crítica e reflexão, onde a voz da criatividade e da verdade possa emergir e ressoar. Só assim poderemos garantir um futuro onde a literatura continue a ser uma força vital de resistência e inovação, desafiando normas e inspirando as futuras gerações. A luta pela liberdade de expressão e pela valorização da literatura é uma batalha contínua, e a persistência dessa luta é crucial para assegurar que a literatura permaneça uma força poderosa e relevante na sociedade.
25/07/2024
Barata Cichetto, Araraquara – SP, é o Criador e Editor do BarataVerso. Poeta e escritor, com mais de 30 livros publicados, também é artista multimídia e Filósofo de Pés Sujos. Um Livre Pensador.