Atualizado em 28/07/2024 as 18:19:32
Que ninguém durma, que ninguém morra, que ninguém nasça sob esses ares de inferno, que o fogo não queime além da linha, da camada seguinte, do que foi imposto, além da própria chama e ardências indigestas, que se tenham mantidos os ossos, os parcos pertences, as cordas vocais, as mãos de ofício, o corpo do pecado e de outras indecências casuístas, que ninguém beba nesse cálice maldito, que o veneno não mate as virgens e as santas, nos domingos de reza, que não se ofendam as samaritanas, que nada além do escuro seja finito.
São os filhos dessa terra a carregarem as impurezas do sangue herege, das blasfêmias, da herança dos homens bastardos, dos que foram trancafiados as masmorras, esquecidos da licitude e da justiça do rei.
São os filhos dessa pele, que cheiram suor, cio, carvão, perfumes almiscarados, que cheiram fome, desespero, suicídio, que foram esquecidos nas jaulas, desde janeiro.
São salivas e lágrimas despejadas diante da indiferença do carrasco e dos pulhas de togas.
Que ninguém durma, que ninguém esqueça, que ninguém colida, que ninguém ouse, que ninguém soletre o alfabeto em alto e bom som, que não se reze as súplicas de amanhã, que haja céu e roga neste exato instante, que antes do lapso e do adverso, se tenha nome, que seja conhecido o espelho e os olhos que se olham, que haja tempo para um ínfimo sonho.
Que ninguém morra de silêncio em noite insone.
Que ninguém se entregue…
Bravo!