Atualizado em: 28/07/2024, as 04:07
Numa cidade, onde os edifícios se erguiam como torres de cristal e as ruas eram rios de luz, havia um beco esquecido chamado Beco das Estrelas. Era um lugar onde o tempo parecia se dobrar, onde os sonhos se misturavam à realidade e as estrelas dançavam em espirais.
Um astrônomo aposentado, passava suas noites no Beco das Estrelas. Ele acreditava que ali, entre as sombras e os murmúrios, a Parusia aconteceria. A Parusia, a segunda vinda, o retorno do Salvador. Mas não o Salvador que as igrejas pregavam, e sim um ser cósmico, uma entidade que transcenderia o tempo e o espaço.
Observava o céu noturno através de seu telescópio improvisado. As estrelas pareciam mais brilhantes no Beco das Estrelas, como se estivessem prestes a revelar um segredo ancestral. Ele anotava suas observações em um caderno velho, traçando linhas entre as constelações, buscando padrões ocultos.
Uma noite, enquanto estudava a órbita de uma estrela distante, viu algo incomum. Uma luz piscou no céu, uma luz que não pertencia a nenhum planeta ou cometa conhecido. Era uma estrela cadente, mas não como as outras. Ela se movia em ziguezague, como se estivesse seguindo um caminho predestinado.
Sentiu um arrepio na espinha. Ele sabia que aquela estrela era diferente. Era a semente da Parusia, o sinal de que algo estava prestes a acontecer. Ele correu para casa, pegou seu casaco e voltou ao Beco das Estrelas. Lá, ele esperou, olhando para o céu, com o coração acelerado.
E então, aconteceu. A estrela piscou mais uma vez e se dividiu em milhares de fragmentos. Cada fragmento se transformou em uma luz brilhante, uma presença etérea. E do meio das luzes, surgiu uma figura: uma mulher com cabelos de prata e olhos que refletiam o universo.
Disse ela, sua voz ecoando como o vento entre as galáxias. “Você esperou por mim.”
Ele a olhou, sem palavras. Ela era a Parusia, a entidade que transcenderia o tempo e o espaço. Ela veio para despertar a humanidade, para lembrá-los de sua conexão com as estrelas, com o cosmos.
“O que você quer de mim?” perguntou.
Ela sorriu. “Apenas que você conte aos outros. Que você espalhe a mensagem. A Parusia não é um evento futuro, é um despertar interior. É a compreensão de que todos somos feitos das mesmas partículas estelares, que somos parte de algo maior.”
Olhou para o céu, para as luzes que dançavam no Beco das Estrelas. Sabia que sua missão estava apenas começando. Ele seria o mensageiro, o contador de histórias, o guardião da Parusia esperada.
E assim, saiu do Beco das Estrelas, com o coração cheio de luz. Contou aos outros sobre a mulher de cabelos de prata, sobre a mensagem das estrelas. Alguns riram, outros duvidaram, mas ele não desistiu. Sabia que a Parusia estava acontecendo, não nos céus distantes, mas dentro de cada coração humano.
E, todas as noites, voltava ao Beco das Estrelas, olhando para o céu, esperando pelo próximo sinal. Porque, afinal, a Parusia não era um evento futuro. Era o agora, o eterno presente, o despertar das almas perdidas no labirinto do tempo.
Renato Pittas, Rio de Janeiro, RJ, é artista plástico, poeta, escritor e Livre Pensador. Autor de Tagarelices: Conversas Fiadas Com as IAs.