Atualizado em 28/07/2024 as 11:49:38
O ano de mil novecentos e quarenta e quatro começa com notícias trazidas por uma rádio da Resistência Francesa dizendo que o grupo que escapou do Gueto estava a caminho da França, vários dos que escaparam acabaram sendo mortos ao sair da Polônia, mas alguns, e dentre eles o espião inglês, conseguiram sobreviver, os membros da resistência em Paris, a que mais bem preparada estava, deveria dar o suporte a eles para que conseguissem chegar até a Inglaterra.
Esse grupo deveria ser escoltado até o Porto de Gijón o norte da Espanha, onde haveria um barco aliado esperando por eles, e dali iriam para a Inglaterra, as primeiras informações davam conta e que deveriam dispender dois combatentes para fazer essa travessia, e iriam identificar o espião pelo nome fictício de Oliver, era o que sabiam até o momento.
No dia seguinte o Líder da Resistência Francesa os reúnem e passa mais detalhes sobre isso, diz que do total de trinta sobreviventes apenas cinco conseguiram escapar da Polônia, e um deles era o espião, os demais eram membros de uma mesma família, e que ele havia escolhido para essa missão Jean e Charles, e diz que mais detalhes serão passados assim que tiverem mais informações, mas que os dois se preparassem a partir daquele momento.
Passados dois dias Jean e Charles são chamados pelo Líder, se reúnem no local habitual e ele diz a Jean:
— Estou em dívida eterna com você por ter salvado a minha vida, por isso te inclui nessa missão, e já avisei ao nosso comando de que você irá com eles até Londres, e se Deus quiser você voltará aos braços de sua amada, você é um homem de bem e merece isso.
— E escolhi Charles porque vocês dois se completam, e esse é um fator positivo para o êxito desta missão.
Jean fica emocionado, a esperança de ver a mulher que amava se renova em sua alma, a luta diária pela sobrevivência havia deixado ele amargo, introspectivo, sempre que podia abria seu relógio e dava uma olhada na foto já amarelada de Evelyn.
Ele volta a chorar depois de tanto tempo, se abraça ao amigo e os dois ficam ali quietos. Mas a missão não seria nada fácil, eles teriam que viajar sem que fossem percebidos, a viagem se faria na clandestinidade, os sobreviventes estavam vindos de Varsóvia e escoltados por quatro elementos revoltosos contrários ao Regime e à Ocupação Nazista, se juntariam com os dois elementos da Resistência Francesa em Bordeaux.
O caminho até Bordeaux seria muito difícil para eles, pois passariam por inúmeras regiões tomadas pelos alemães, a rota seria a seguinte:
— De Varsóvia o Grupo Sobrevivente seguiu para a Eslováquia, de lá para a Áustria, em seguida entrariam na Suíça que era neutra no conflito, e de lá entrariam na França em sua parte livre administrada pelo Governo de Vichy indo à cidade de Lyon, dessa cidade se deslocariam até Riom, nessa cidade seguiriam pelo Rio Dordogne até a cidade de Bordeaux, na parte ocupada da França, lá iriam até uma fazenda nos arredores da cidade cujos donos eram simpatizantes dos movimentos Antinazistas, e se encontrariam com os dois elementos da Resistência Francesa.
Dessa localidade partiriam para a cidade de Bayonne e dela entrariam em território Espanhol indo até a cidade de San Sebastian, em seguida se deslocariam para Bilbao, continuariam a viagem indo até Santander e finalmente chegariam a seu destino: a cidade de Gijón e seu porto onde estava o transporte que os levariam de volta à Inglaterra, a viagem seria muito dura, iriam enfrentar perigos de toda espécie, mesmo na Espanha devido à Revolução Espanhola.
Todo esse trajeto deveria ser feito no mais curto espaço de tempo possível, mas sabiam que iriam se demorar em virtude das enormes dificuldades que passariam, inclusive na Espanha que, embora tivessem se declarados neutros no conflito, Franco se mostrava um admirador de Hitler, e que por causa do conflito com a França reforçou em muito a vigilância nas fronteiras, caso fossem capturados certamente seriam levados até os nazistas.
A partida de Jean e do companheiro Charles se daria assim que notícias confirmassem que o grupo estaria saindo de Riom, isso faria com que eles chegassem à fazenda praticamente juntos, então os dias que se seguem seriam de uma grande ansiedade para Jean, a saudade de Evelyn bate mais forte ainda, às vezes quando vai tomar banho chora pelo medo que tem dela ter se ferido nos bombardeios, mas faz o impossível para se controlar, estava perto de voltar, seu estado de atenção deveria estar em plena atividade.
O ano passava, Jean ficava cada vez maia ansioso, estava ficando cada vez mais difícil para ele segurar essa ansiedade, em algumas vezes isso quase o coloca em situação perigosa, Charles sempre ao seu lado o ajudava a superar isso, passa a ficar de olho no amigo, então no dia vinte de abril eles são chamados para uma reunião de emergência, quando os dois chegam ao local da reunião encontra apenas o líder, Jean fica muito nervoso, então o Líder diz sem cerimônias:
— Chegou sua hora meu amigo, os Sobreviventes do Gueto estão a caminho de Bordeaux, vocês dois devem partir agora mesmo, e encontrá-los no ponto de encontro combinado, aqui estão duas mochilas as quais têm ração para a viagem até lá, não deverão portar armas enquanto estiverem no Território Francês Ocupado, mas quando vocês estiverem em Bayonne, próximo à fronteira com a Espanha, irão à casa de um amigo nosso, e ele lhes dará armas, elas poderão ser úteis a vocês quando entrarem em território espanhol, pois lá poderá haver hostilidades, não temos amigos até chegarem a Gijón, quando seguirão até a Inglaterra.
— Jean eu quero que me prometa uma coisa: irá encontrar Evelyn, e dar continuidade à história de vocês, ficarei aqui torcendo por vocês, quem sabe irei um dia lá para comer em seu restaurante uma comida típica inglesa.
Após o episódio em que Jean o salvou, eles ficaram muito próximos, e conversavam muito sobre suas vidas, e criaram uma grande e sincera amizade.
Jean faz dois pedidos a ele:
— Peço que informe meus pais sobre esta viagem, e que me prometa que irá se cuidar, pois quero que coma minha comida e me faça feliz em saber que tudo correu bem com você, jamais me esquecerei de você Marco.
O amigo ainda tinha suas últimas instruções:
— A viagem será longa, passarão por situações difíceis, conforme havíamos conversado anteriormente pegarão o trem até metade do caminho, vocês devem se abrigar em vagão aberto para poderem observar a milícia nazista, eles costumam checar os trens, e assim, caso necessário, empreenderem fuga, para o resto do caminho terão que se utilizar da boa vontade da população que possa lhes oferecer uma carona ou então seguirem sozinhos da forma que for possível.
— Dentro das mochilas estão coisas de que precisarão como alguns alimentos, seus novos documentos e novos nomes, algumas peças de roupa, e demais pertences os quais habitualmente levamos em viagens.
— Dentro dela também irão encontrar todas as instruções da viagem até o Porto de Gijón, além disso em um mapa com a rota traçada onde marcamos todos os locais por onde deverão passar, e lembrem-se de que terão que decorar isso e depois queimem tudo, se forem pegos será menos suspeito não terem nada disso com vocês.
— Vão e que Deus os proteja.
Os dois se colocam a caminho, o coração de ambos batia de forma intensa, Jean era habilidoso em explosivos e sabia falar muito bem o espanhol, Charles era uma pessoa muito simples, porém dotada de uma força física descomunal, sabia atirar muito bem, eles se completavam.
Chegam até a estação ferroviária, estava recheada de soldados alemães, se esgueiram pelas sombras para não serem vistos, Jean conhecia uma abertura feita numa grade próxima à linha do trem, se dirigem até ela e a ultrapassam, o trem que iria em direção ao oeste do país estava se preparando para sair, eles se certificam de que seja ele mesmo, teriam que ter muito cuidado, pois ao lado do trem havia alguns soldados checando os vagões, de repente a locomotiva dá o sinal e o trem inicia seu movimento lentamente, ambos ficam ansiosos por entrarem logo nele, mas seria difícil caso os guardas continuassem onde estavam, porém ambos os soldados se dirigem para o final do trem, reviram os bolsos para pegarem um cigarro e nesse momento os dois voam em direção ao trem e saltam por sobre o último vagão que estava carregado de vigas de aço, se esgueiram por baixo da lona que os cobria e eles ficam ali quietos esperando o trem sair da estação e ficar longe das luzes da cidade.
Logo o trem sai do centro da cidade e empreende uma velocidade maior, os dois se juntam e ficam ali ansiosos pelo que os esperarão, foram treinados para esse tipo de missão, então tinham capacidade para conseguirem chegar até o objetivo, Charles só falava francês, mas Jean falava também o inglês e o espanhol, isso seria fundamental para quando entrassem na Espanha.
Após cerca de quatro horas de viagem o trem já se encontrava em campo aberto, os dois trocam de roupa, vestem as vestimentas que haviam na mochila, estariam caracterizados como trabalhadores rurais, comem algo, e o frio começa a incomodar, como estavam em vagão a céu aberto o vento os pega de jeito, mesmo com a proteção da lona, passariam a noite toda nessa situação, quando amanhecesse estariam próximos de uma cidade onde o trem faria sua primeira parada, como haviam vagões de passageiros isso aconteceria mais outras vezes até chegarem em seu destino, em todas essas vezes os vagões sofreriam inspeções de soldados alemães, teriam que ficar atentos a isso.
Eles se revezam na vigília, três horas cada um, Charles foi dormir, Jean estava sentado olhando o céu, a noite estava toda estrelada, fica imaginando com estaria Evelyn, pede a Deus que a conforte, fica muito triste em pensar que ela tenha sofrido por causa dele.
Pega seu relógio, abre a tampa, mas estava muito escuro e não consegue ver a imagem ali guardada, beija a foto com carinho, olha para o céu e diz baixinho:
— Boa noite meu amor, que os Anjos do Senhor a proteja.
O trem segue seu caminho, de repente ele vê um clarão ao longe, parecia que algum bombardeio estava ocorrendo por aquelas bandas, não assusta mais com isso.
O dia chega, os dois estão atentos à chegada à cidade, conseguem se esconder por entre os ferros, ali os dois estavam bem escondidos, logo o trem chega à estação, ele pára, ouve-se o burburinho das pessoas descendo e subindo do trem, logo alguns soldados fazem a inspeção da carga, chegam a levantar a lona e fazer breves inspeções, mas logo abandonam o local e o trem segue sua viagem, logo se coloca em campo aberto e os dois podem sair novamente de seus esconderijos.
A viagem deles deveria durar cerca de seis dias, em que pese estarem levando um cantil de água cada um, essa quantidade não seria suficiente para a viagem toda, conseguir água seria um grande desafio para eles, pois o trem não ficava muito tempo parado, se eles fossem buscar água muito longe do trem corriam o risco de perdê-lo, e com isso a missão se atrasaria.
Naquele dia o trem chegaria a outra cidade no começo da noite, poderiam aproveitar a escuridão para buscarem por água, mas teriam que pega-la no banheiro que havia nas estações, para isso teriam que driblar os soldados, teriam muito pouco tempo para isso, mas teriam que arriscar, sem água não conseguiriam ir longe.
À noite chega, o trem ainda estava no campo, mas ao longe já se podia avistas as luzes da cidade, o cantil tinha menos da metade de água, caso conseguissem água iriam beber o que fosse possível e encher o cantil, por enquanto tudo estava indo bem, a vigilância lema estava abaixo do que esperavam.
Chegam à cidade, a estação era pequena, logo o trem para, alguns passageiros descem, outros sobem, havia apenas dois soldados alemães, e estavam distraídos com a conferência dos bilhetes, eles olham para a estação e encontram um bebedouro ao lado de uns bancos, então Charles pega os dois cantis, antes porém, Jean bebe toda a água, ele os leva até lá e rapidamente consegue enche-los, bebe o que pode e volta ao vagão, tudo foi bem sucedido, a escuridão e a distração dos soldados facilitou tudo, logo o trem voltava a sua viagem.
Decorrem quatro dias, e chegam a seu destino final, era madrugada, descem dele e se escondem atrás de um vagão de outro trem que estava parado, dali vão para o lado da pequena estação e logo alcançam a rua, estava deserta, andam se esgueirando pelas laterais, chegam as suas posições e encontram o caminho para onde deveriam seguir, andam a noite toda por uma estrada de terra, assim que o dia amanhecesse poderiam tentar pegar alguma carona.
Estavam com fome e sede, as reservas haviam acabado a fome não seria problema, mas a sede não tinha como controlar, eles ficam atentos a tudo que poderiam pegar para suprir essas necessidades, passam ao lado de uma pequena fazenda, param diante dela e pensam em pegar algum fruto, mas para chegar até a plantação teriam que se expor em campo aberto, eles decidem continuar a viagem, logo adiante a sorte os agracia e conseguem uma carona num caminhão.
Eles passam diante de outra pequena fazenda, o dia estava indo embora, eles se escondem no meio do mato espesso, e ali ficam, logo a noite chega, eles tinham visto uma pequena plantação de milho, ficam ali descansando até que a noite se faça mais profunda, e próximo à meia noite se esgueiram e chegam até essa plantação, pegam algumas espigas de milho, apesar de estarem ainda verdes as consomem assim mesmo, a fome a sede não impunham padrões.
Assim que a fome e a sede são saciadas, pegam algumas espigas a mais e se abastecem delas, satisfeitos continuam a viagem durante a madrugada, e assim chegam numa pequena cidade quando o sol começava a se impor no céu, andavam com muito cuidado, não havia movimento algum nela, no centro da cidade havia uma estátua de um homem em cima de um cavalo e isso identifica a cidade, eles estavam no rumo certo, estavam próximos de Bordeaux.
Eles estavam cansados, a viagem estava sendo muito dura, sem conforto algum, mas naquele momento eles sentem-se felizes por terem conseguido chegar ali, então aceleram o ritmo, pegam a pequena estrada que daria para Bordeaux, e seguem por ela felizes.
Quando já tinham mais de duas horas de viagem solitária e já se encontravam próximos a Bordeaux percebem movimento à frente, se escondem no mato ao lado da estrada, caminham com cautela e descobrem que na estrada havia alguns carros alemães, estavam tentando consertar um blindado cuja esteira tinha se rompido.
Eles observam a sua localização, além do mato que os escondia havia campo aberto, por tanto não poderiam ultrapassar essa barreira pelos flancos, teriam que esperar a noite chegar ou então que o comboio saísse dali, de qualquer forma isso iria atrasá-los.
Passam-se três horas quando um carro alemão decide rumar para Bordeaux, o conserto estava difícil, mas a noite estava chegando, os dois estavam com fome e sede, fora o cansaço pela viagem e pela tensão de estarem presos ali sem poder avançar, logo outro carro alemão vai para o mesmo sentido do outro, fica apenas um carro e o blindado, havia oito soldados ao todo ali, a noite chega, toda estrelada, isso era ruim porque iria clarear o campo dificultando uma fuga clandestina, a cerca que havia mais a frente e ao lado dos veículos alemães era de arame farpado e não havia mato algum que pudesse escondê-los, teriam que esperar os veículos saírem dali.
Aos dois não restava outra opção, então relaxam, e tentam descansar, queriam dormir, mas o sono não chega a adrenalina ainda estava alta, então Jean olha para Charles e em voz baixa fala:
— Você nasceu onde?
Charles é pego de surpresa com a pergunta, era um rapaz calado, tímido, falava muito pouco, mas olha para Jean e responde:
— Nasci na cidade de Dijón em Bourbogne.
Jean havia conseguido tirar algumas palavras de Charles, isso não era comum, então incentiva ao amigo a falar mais e pergunta outra coisa:
— Como foi parar em Paris?
Charles olha para ele, abaixa a cabeça, pensa um pouco volta a olhar para Jean e fala:
— Minha mãe morreu quando eu era criança, meu pai era caminhoneiro, e eu viajava com ele o tempo todo, ele me ensinou a ler e a escrever, me ensinou tudo o que sei sobre mecânica, e conheço a França toda eu morei numa boleia de caminhão.
Diz isso e volta a abaixar a cabeça, e fia ali parado, Jean percebe que isso tinha lhe trazido lembranças que o deixaram emocionado então tenta fazê-lo se abrir:
— O que aconteceu com seu pai?
Essa pergunta mexe com Charles, seu olhar se torna vago, distante, mantêm-se calado, e Jean decide não insistir, ficam assim por um tempo então Charles diz:
— Meu pai bebia muito, ele amava muito a minha mãe e a sua morte não foi digerida por ele, vivia triste pela ausência dela, e um dia ele caiu doente, foi internado num hospital em Paris e de lá saiu dentro de um caixão.
— Eu continuei com o caminhão dele por um tempo, mas decidi mudar minha vida, vendei o caminhão e comprei um pequeno apartamento da periferia de Paris, e fui trabalhar numa oficina mecânica.
Jean se aproveita que o semblante de Charles havia se modificado e continua:
— Porque você se juntou à Resistência Francesa?
Desta vez o semblante do amigo se modifica, fica sério, sua respiração se altera, ele vira o rosto, nitidamente a pergunta o incomodou, fica um tempo nessa postura, Jean fica quieto também, passado um tempo ele se vira para Jean e o encara, balança a cabeça e diz ao amigo:
— Meus tios, irmãos de meu pai, lutaram na Primeira Grande Guerra.
— Eles eram a minha família.
— Todos foram massacrados na Batalha de Verdun em vinte de dezembro de 1969.
Jean resolve não perguntar mais nada, Charles estava muito emocionado.
São atraídos por um ruído e quando se dão conta um veículo alemão se aproximava, dele sai uma pessoa com uma caixa na mão, vai até onde estava o mecânico trabalhando e a entrega ela para o profissional, e logo o conserto estava feito, os soldados sobem nos veículos e se dirigem a Bordeaux.
Os dois voltam a caminhada, deixam com que os veículos se distanciem, se mantêm na beira da estrada e cautelosamente caminham em direção à Bordeaux, não entrariam à cidade iriam contorná-la, pois a fazenda marcada como ponto de encontro se localizava na parte sul da cidade, o dia estava chegando, queriam chegar à cidade antes dele se expor completamente.
Estavam chegando na entrada da cidade quando o sol se abre no horizonte, observam a cidade e ela ainda estava dormindo, observam um pequeno movimento de veículos alemães, então pegam uma rua que contorna a cidade, Charles a conhecia muito bem, e vão por ela até chegarem no ponto sul da cidade.
O sol estava em seu ponto mais alto quando se aproximam da parte desejada da cidade, mas havia um problema: ela estava guardada por um pequeno carro alemão com dois soldados, eles vistoriavam tudo o que passasse por ali, eles teriam que pegar outro caminho, uma alternativa era adentrar uma pequena propriedade rural, mas ali havia um campo aberto muito perigoso, seriam facilmente avistados, então eles tinham duas alternativas: esperar a noite chegar e passar pelo campo ou arriscar passar por ali mesmo naquele momento e se arriscar a serem vistos.
Não queriam pôr em risco a missão, ainda mais que estavam muito perto do ponto de encontro, então eles decidem ficar ali e esperar a noite chegar, teriam a tarde toda, estavam com fome e sede, mas assim que chegassem à fazenda teriam comida e água, isso os incentiva a ficarem ali.
A noite chega, e por sorte deles, o veículo alemão sai da entrada da estrada, eles aproveitam esse momento e voam por ela em direção à fazenda, aquela noite estava escura, nuvens escuras cobriam o céu, logo a chuva chega, estavam a cerca de uma hora da fazenda, a lama estava por toda a parte, isso somado ao esforço físico dispendido até aquele momento cria uma barreira ainda mais difícil a ser transposta pelos dois, mas eles não cedem momento algum ao cansaço, continuam em frente com toda força disponível.
Logo enxergam a luz que vinha do alpendre da fazenda, chegam os pontos de referência para se certificarem que fosse ela mesmo e conseguem essa confirmação, respiram aliviados, mas mesmo assim se aproximam com cautela, checam o perímetro para verificar se não havia nada de errado, vão aos fundos da casa se esgueiram e ficam observando e ouvindo, havia um silêncio enorme, então vão até a porta e batem três vezes nela, se afastam e ficam um de cada lado escondidos para ver a reação, logo uma janela ao lado da porta se abre, fecha e abre novamente, esse era o sinal de que tudo estava bem, então eles se apresentam, o homem que havia aberto a janela vai à porta e a abre para eles, os dois entram a casa e são levados à cozinha, sentam e homem se apresenta:
— Meu nome é Gerôme, devem ser Charles e Jean, muito bom que tenham conseguido chegar, os sobreviventes ainda não chegaram, mas devem estar perto, certamente devem estar famintos e com sede, mas acho que primeiro preferem tomar um banho, o banheiro fica na porta da direita, eu irei buscar roupas limpas para vocês, e depois darei comida, fiquem à vontade.
Após o banho sentem um aroma de comida como há muito não sentiam, seus estômagos roncavam de tanta fome, eles são servidos com uma caneca de vinho cada, a seguir a comida lhes é colocada no prato, e comem com uma vontade sem igual.
Após estarem saciados são levados à sala, sentam-se e Gerôme lhes diz:
— Os alemães estão muito agitados ultimamente, nós não tínhamos muito problema com eles, mas várias unidades foram retiradas daqui para que fossem em direção à fronteira, parece que há conflitos lá, as notícias nos chegam de forma confusa, e os soldados que ficaram estão nervosos, mas vocês deverão ter muito cuidado com o trajeto até Bayonne, irão s e encontrar com vários soldados.
Tenho um quarto no porão, ficarão seguros lá, tem duas camas confortáveis e lençóis limpos, me sigam. Ele os leva até suas acomodações, pede a eles que não acendam nenhuma luz, isso poderia atrair algum alemão, diz que eles às vezes saem em patrulhas, e sai de lá deixando os dois a vontade para o necessário repouso.
Charles e deita e logo pega no sono, Jean fica de barriga para cima e apesar de todo cansaço sente uma intensa agitação, Evelyn volta em sua mente, e isso o deixa riste, sente saudade dela, queria falar com ela, queria tocá-la, queria beijá-la, isso tudo o deixa ainda mais angustiado, então pega seu relógio abre a tampa dá um beijo na foto e o coloca por sobre o peito, com isso acaba dormindo.
O dia seguinte eles passam no porão, era mais aconselhável para evitar serem vistos, ficam deitados o dia todo procurando recuperar as energias para o que vem depois, se alimentam bem, Gerôme lhes explica novamente qual o trajeto que deverão adotar para chegarem até Bayonne, com isso o dia vai embora, a noite chega, eles jantam, conversam, tentam relaxar um pouco, falam de assuntos que não se referem à guerra, todos já estavam saturados dela.
Após a conversa se dirigem aos seus aposentos, Charles assim que deita pega no sono, Jean fica acordado como sempre, de repente ele ouve alguns ruídos, senta na cama e fica mais atento, os ruídos vinham de fora, ele acorda o amigo, eles ficam ouvindo e concordam que havia gente lá fora andando, então saem cautelosamente do porão, sobem até o 1quarto de Gerôme, acordam o anfitrião, dizem a ele o que esta acontecendo e pedem armas, então recebem uma pistola cada um, eles descem e quando estão no meio da escada alguém bate à porta, são seis batidas, Gerôme olha para eles e diz baixinho:
— Esse é o código dos sobreviventes, os dois se escondem e ficam aguardando Gerôme abrir e fechar a janela duas vezes, em sinal de resposta às batidas da porta, quando ele abre a porta um soldado SS abruptamente entra na sala, e joga o pobre Gerôme ao chão, em seguida entra dois outros soldados com cinco pessoas amarradas e com a boca tapada, eram dois homens adultos, uma mulher e dois garotos, deviam ser provavelmente os Sobreviventes do Gueto pois os soldados alemães usaram os códigos de identificação corretos, eles devem ter sido torturados a falar, havia marcas disso no rosto do casal, Jean olha para Charles e faz sinal para ficar calmo, não havia muita luz na sala, a escuridão seria um fator positivo, mas eram três alemães contra dois insurgentes, a briga seria desigual.
O Sargento Alemão acende uma vela, Jean aponta para um dos soldados faz sinal para Charles dizendo que aquele devia ser abatido por ele, e o outro seria dele, se preparam e ao sinal de Jean fazem o disparo fatal, rapidamente Jean se levanta e rende o sargento que reage e é alvejado por Jean, caindo morto ao chão, ele não teve outra alternativa e acabou fazendo isso a contragosto, mas era uma questão de sobrevivência.
Charles sai para verificar se havia mais soldados, porém a princípio eram apenas aqueles soldados, Jean desamarra as pessoas e logo um dos homens se identifica como sendo Oliver, isso confirma que eles eram realmente os Sobreviventes do Gueto, e ele confirma que haviam apenas esses soldados, mais nenhum.
O espião inglês, de nome Oliver, agradece a ação deles, e diz que foram alvos de uma emboscada feita por soldados quando estavam vindo pelo rio, os quatro combatentes rebeldes que os acompanhavam foram abatidos por eles, infelizmente, além de outros três que estavam vindo do Gueto, tendo restado apenas ele e a família Janowicz, esse era o nome dos demais, ele diz que foram forçados a confessar o motivo pelo qual nós estávamos viajando furtivamente pelo rio, eu dei uma resposta convencional, porém um dos soldados falava polonês, e eu não sei direito o que ele disse à senhora que ela acabou confessando, com isso fomos trazidos para cá, assim que chegamos eles me obrigaram a dizer o código de acesso, caso contrário eles matariam todos eles ali mesmo, então tive que ceder na esperança de que vocês estivessem atentos, me desculpem, mas não tive outra solução, ainda bem que vocês estavam armados, tenho que voltar para a Inglaterra de qualquer jeito.
Jean então se dirige ao Sr. Gerôme e diz que ele deve ir junto com eles, pois aqueles soldados serão procurados por todos os lados, mesmo que apaguem o rastro deixado pelo carro em que vieram mesmo assim era bastante provável que a SS encontrasse evidencias de que houve algo naquela casa, e ele fatalmente seria executado pelos nazistas, ele acaba concordando com a argumentação feita por Jean.
Revistam os soldados e tiram deles tudo o que era interessante, levam eles para um pequeno paiol que havia nos fundos da propriedade, para onde levam também o carro oficial, apagam da melhor forma possível os rastros, e voltam para a casa.
Infelizmente os sobreviventes não teriam uma pausa antes de se dirigirem à Bayonne, essa ocorrência atrapalhou os planos, então pegam a comida que podem cada um levava uma mochila, e assim partem em direção à cidade através da qual irão entrar na Espanha, seriam aproximadamente dois dias de viagem muito dura e cansativa.
Após dois de viagem, chegam à Bayonne, tudo estava indo muito bem, não tiveram problemas durante o trajeto, da cidade se dirigem à fronteira, levariam cerca de uma hora para chegar lá, iriam atravessar por um ponto onde habitualmente não havia policiamento, isso iria facilitar muito as coisas.
Atravessam a fronteira, estavam na Espanha, o país apesar de neutro estava em conflito interno, o exército vigiava quase tudo, se fossem pegos seriam levados de volta à França imediatamente e isso significava a morte para eles, então caminham com extremo cuidado.
O dia vai passando, a noite se aproxima todos estavam esgotados, então encontram uma pequena encosta próxima a um campo de pastagem, e ali passariam a noite, estavam abrigados das intempéries e longe de olhos inimigos.
A jornada do grupo ainda estava longe de terminar, mas estavam decididos a ir até o fim.
Walter Possibom, São Paulo, SP é autor de Um Brilho nas Sombras e Quando os Ventos Sopram na Pradaria. É editor dos Blogs Planet Caravan e Walter Possibom Escritor, e além de músico, Livre Pensador.
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