Destro, o Martelo da Liberdade: Confronto e Ideologia

Atualizado em: 28/05/2025, as 04:05

Hoje vamos falar sobre Destro, a controversa HQ criada pelo autor Luciano Cunha, que também deu vida ao personagem Doutrinador, posteriormente adaptado para o cinema e uma minissérie televisiva. Luciano Cunha, conhecido por sua abordagem direta e provocativa, construiu com Destro um universo distópico, no qual a liberdade é cerceada por uma elite corporativa e tecnológica que controla a sociedade a partir de sua ideologia. Ambientado no ano de 2045, Destro surge num mundo dominado por uma ditadura corporativista, onde a tecnologia se torna instrumento de opressão em um Estado totalitário.

Na história, as Três Torres — uma clara alusão a três gigantes tecnológicas — manipularam eleições, controlaram dados e, agora, ditam as normas e valores de uma sociedade onde não há espaço para discordância. O protagonista, João Destro, é um homem de meia-idade, astuto e resiliente, que foge do sistema e desafia a ordem estabelecida. Sem o chip obrigatório de monitoramento, Destro representa um dos últimos bastiões de resistência, buscando literatura conservadora e tentando espalhar suas ideias em um ambiente onde a censura e a repressão imperam.

A proposta de Destro era ambiciosa: uma trilogia que mergulharia profundamente no confronto entre o indivíduo e a ideologia opressiva dominante. Ambas as edições não possuem um título direto, subtítulos como “O Martelo da Liberdade” e “O Martelo da Direita”, apenas para efeitos de divulgação. Nos EUA, foi lançado como “The Hammer of Freedom”. Apesar do sucesso inicial e da promessa de mais duas edições, o terceiro volume ainda não foi lançado, deixando a história inacabada e os fãs ansiosos até hoje, no final de 2024.

Desde o lançamento, Destro chamou a atenção de uma base de fãs considerável, muitos deles atraídos pela abordagem crítica à ideologia de esquerda. Luciano Cunha, ao lado do ilustrador Michel Gomes, usou as redes sociais para promover o projeto, gerando polêmica e discussões acaloradas. No entanto, após o lançamento do segundo volume, Cunha parece ter se afastado das redes, o que coincidiu com a tentativa de financiamento coletivo para adaptar Destro para um game e um filme, ambos aparentemente fracassados em alcançar os valores necessários para sua produção.

A narrativa de Destro é ambientada num Brasil distópico, onde a resistência não é apenas uma escolha, mas uma questão de sobrevivência. João Destro encontra aliados no submundo de São Paulo, uma cidade afogada na opressão, onde a polícia política e drones vigiam cada movimento. Apesar de uma sociedade devastada, o espírito de liberdade sobrevive nos personagens que ousam desafiar o sistema.

A qualidade gráfica e o acabamento das edições de Destro são frequentemente elogiados, assim como a objetividade dos textos, que não apenas contam uma história, mas incentivam o leitor a refletir sobre as bases ideológicas que sustentam as tiranias e a censura. A HQ assume que, na distopia, os ideais socialistas, longe de promoverem uma sociedade justa, resultaram em um Estado totalitário, um ciclo de tirania e miséria onde quem tem o poder detém também o controle absoluto.

Destro representa uma crítica direta ao que o autor enxerga como uma tendência preocupante de silenciamento e imposição ideológica, mas faz isso através da ficção e com um olhar no passado. As referências a clássicos como 1984, de George Orwell, e Admirável Mundo Novo, de Aldous Huxley, se fazem sentir. A HQ evoca um futuro sombrio que soa como uma extrapolação dos medos contemporâneos, onde o controle sobre a população é exercido por grandes corporações alinhadas ideologicamente.

A importância de obras como Destro vai além do entretenimento. É um convite para reflexão, especialmente num contexto onde questões de liberdade de expressão e controle de dados são cada vez mais debatidas. Mesmo que a série tenha enfrentado dificuldades e que a trilogia continue incompleta, Destro permanece relevante como um dos poucos exemplos de histórias em quadrinhos brasileiras que exploram, com tanta intensidade, temas anti-esquerdistas.

“Fico chocado como tantos jovens brasileiros se deixam atrair por uma ideologia que assassinou milhões de pessoas e simplesmente arruinou todos os lugares em que foi implementada. É claro que ser de esquerda é sedutor pois é isso que o socialismo faz: enfeitiça a pessoa para que ele seja ‘do bem’, se sinta ‘do bem’. Mas você não precisa ser de esquerda para ser humanista, pelo contrário. Pra mim, liberdade individual não se negocia e o marxismo, em sua essência, é escravidão, subordinação e violência. Não entendo como as pessoas, principalmente os jovens, podem apoiar isso e o quadrinho quer jogar luz sobre o assunto.” – declarou o criador Luciano Cunha numa entrevista.

Portanto, se você busca uma narrativa intensa, envolvente e que desafia as normas, Destro é uma leitura que vale a pena. Compre e leia Destro, e mergulhe num futuro alternativo que, por mais distante que pareça, talvez não esteja tão longe assim.

01/11/2024

"Destro", Pintura a PVA, 60 X 40, Por Barata 2020

Barata Cichetto, Araraquara – SP, é o Criador e Editor do BarataVerso. Poeta e escritor, com mais de 30 livros publicados, também é artista multimídia e Filósofo de Pés Sujos. Um Livre Pensador

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