As coisas são inocentes, nós que as fazemos pedaços de céus e infernos particulares, facultando-lhes pecados e bênçãos inexistentes. Em nenhuma cadeira sentam-se culpas e desprezo cinza de sexta-feira; talvez só lhes caiba a responsabilidade única de preencher parte de nossas lacunas, junto à mesa de jantar.
As coisas são inocentes, coexistiram diante de nossa fala e desgraça, couberam na vida inventada, carregando seus nomes e silêncios. Jacarandás são ótimas madeiras para modelagem, resistentes a pragas como cupins, sobrevivem aos anos de outros sonhos.
Nesta casa cheia de estórias, deveríamos dar algum valor aos que nos fizeram par, ampararam mãos e pés e todo o nosso estrondoso repertório de fim.
As coisas são inocentes, não lhes pragueje a existência; tiveram ousadias de testemunhas, reconhecimentos cínicos, cívicos, cênicos, participaram do teatro de todos os nossos ontens, ousaram sobreviver à existência de um dia de agosto, da lembrança fálica de um gozo seco em um tapete que também viu adeus.
03/11/25
