“Se alguém cuspir na suas costas, te mostra que você está a frente dele.”
(Provérbio Taoísta)
Na pequena aldeia, havia uma tradição antiga que poucos ousavam desafiar. Dizia-se que, se alguém cuspisse nas costas de outra pessoa, essa pessoa estava destinada a seguir um caminho invisível. Esse caminho, oculto aos olhos comuns, levava a lugares misteriosos e perigosos.
Ninguém sabia exatamente para onde o caminho invisível conduzia. Alguns acreditavam que era uma passagem para o mundo dos espíritos, enquanto outros afirmavam que levava a terras distantes e exóticas. O fato era que, uma vez marcado pelo cuspe, o viajante não tinha escolha senão seguir adiante.
Um jovem chamado, curioso e destemido, decidiu testar a lenda. Ele esperou pacientemente na praça central da aldeia, observando as pessoas passarem. Finalmente, viu um homem idoso com uma bengala se aproximando. Sem hesitar, cuspiu nas costas do velho.
O homem parou por um momento, olhou para ele com olhos sábios e disse: “Você está pronto para seguir o caminho invisível?”
Ele assentiu, sentindo uma mistura de excitação e medo. O homem estendeu a mão e tocou o ombro dele. Instantaneamente, o mundo ao seu redor desapareceu. Ele estava em um lugar estranho, onde as árvores tinham folhas douradas e o céu era da cor do crepúsculo.
O velho homem apareceu ao seu lado. “Bem-vindo ao caminho invisível”, disse ele. “Aqui, você encontrará desafios e escolhas. Siga seu coração e confie em sua intuição.”
Então, caminhou por trilhas estreitas, atravessou rios de luz e enfrentou criaturas que pareciam saídas de lendas. Ele encontrou uma fada que lhe ofereceu um desejo, mas ele recusou. Mais adiante, um espelho mostrou-lhe vislumbres de seu próprio futuro, e ele viu alegrias e tristezas que ainda estavam por vir.
À medida que os dias se transformavam em semanas, percebeu que o caminho invisível não era apenas uma jornada física, mas também uma jornada interior. Confrontou seus medos, suas dúvidas e seus desejos mais profundos. E, no final, ele chegou a uma bifurcação.
Uma placa indicava duas direções: “Volte à aldeia” e “Continue em frente”. Hesitou. Ele sentia saudades de casa, mas também ansiava por descobrir o que havia além. Finalmente, ele escolheu seguir em frente.
O caminho invisível o levou a um penhasco alto, de onde ele podia ver o mundo abaixo. Ele sentiu uma conexão profunda com tudo ao seu redor. O velho homem apareceu novamente.
“Você está pronto para voltar?”, perguntou o homem.
Olhou para o horizonte e sorriu. “Não”, respondeu ele. “Aqui é onde eu pertenço.”
E assim, se tornou o guardião do caminho invisível. Ele nunca mais voltou à aldeia, mas sua história foi contada de geração em geração. Dizem que, se você visitar o penhasco no crepúsculo, ainda pode ouvir o eco das palavras deles: “Aqui é onde eu pertenço.”
E assim, o caminho invisível permaneceu, desafiando os corajosos e curiosos a seguirem em frente, mesmo quando não sabiam para onde estavam indo. Pois, às vezes é preciso cuspir nas costas do destino para encontrar o seu verdadeiro caminho.
Renato Pittas, Rio de Janeiro, RJ, é artista plástico, poeta, escritor e Livre Pensador. Autor de Tagarelices: Conversas Fiadas Com as IAs.