Atualizado em 21/08/2024 as 20:37:58
Diálogo Entre Joe (Charlotte Gainsbourg) e Seligman (Stellan Skarsgärd) em “Ninfomaníaca Volume 2, Lars Von Trier, 2014
Seligman — Você não deveria usar essa palavra. Não é o que se chama de “politicamente correto”. ‘Negro’.
Joe — Bem, me desculpe, mas nas minhas relações, sempre foi um sinal de honra chamar os bois pelos nomes. Cada vez que uma palavra se torna proibida, você remove uma pedra do alicerce democrático. A sociedade demonstra sua impotência em face de um problema concreto, removendo palavras da língua. A queima de livros não pode agregar nada a sociedade.
Seligman — Acho que a sociedade diria que o politicamente correto é uma expressão muito precisa de preocupação democrática para as minorias.
Joe — E eu digo que a sociedade é tão covarde quanto as pessoas que a compõe. Que, na minha opinião, também são demasiado estúpidas para a democracia.
Seligman — Entendo o seu ponto, mas discordo totalmente. Não tenho nenhuma dúvida sobre as qualidades humanas.
Joe — As qualidades humanas podem ser expressas em uma palavra: hipocrisia. Enaltecemos aqueles que dizem o certo, mas desejam o errado. E zombamos daqueles que dizem o errado, mas desejam o certo. A sociedade é baseada no ódio.
Explorar o tema do politicamente correto levanta questões profundas sobre como essa abordagem pode ser interpretada não apenas como uma tentativa de promover sensibilidade, mas também como uma forma sutil de censura na linguagem. Como defensor da posição de que o politicamente correto frequentemente transborda para o domínio da censura, é essencial examinar como essa dinâmica molda nossa interação com as palavras e suas implicações na liberdade de expressão.
A dicotomia entre “preto” e “negro” ao descrever pessoas de ascendência africana é um exemplo eloquente dessa tensão. Enquanto o politicamente correto favorece o uso de “negro” em contextos formais para evitar conotações históricas e sensibilidades raciais, o termo “preto” pode ser preferido por indivíduos que o veem como uma afirmação de identidade cultural e um resgate do orgulho racial. No entanto, a imposição de uma linguagem padronizada, mesmo com boas intenções de evitar ofensas, pode limitar a expressão genuína e a diversidade linguística.
Essa tendência pode ser interpretada como uma forma de censura, onde a liberdade de escolher como nos referimos a nós mesmos e aos outros é restringida em favor de uma conformidade linguística que nem sempre reflete as realidades e preferências individuais.
A expressão “filho da puta” ilustra ainda mais como o politicamente correto pode levar à autocensura. Enquanto entre amigos próximos pode ser usada de forma brincalhona ou como um termo carinhoso, em ambientes mais amplos e formais somos aconselhados a evitar tais expressões devido ao seu potencial de ofensa. Essa autoimposição de restrições pode moldar o discurso público de maneira que cerceia a liberdade de expressão, substituindo-a por uma conformidade artificial que não permite uma verdadeira troca de ideias e perspectivas.
Minha perspectiva pessoal é fundamentada na crença de que o politicamente correto, quando levado ao extremo, pode se transformar em uma forma de censura disfarçada. A censura, seja por meio de políticas institucionais ou autoimposta por medo de represálias sociais, pode criar um ambiente onde a expressão autêntica é sufocada em nome de uma linguagem politicamente aceitável.
Enquanto defendo a importância da sensibilidade e do respeito mútuo na comunicação, também reconheço os perigos de uma cultura onde a preocupação com o politicamente correto suplanta a liberdade de expressão e a diversidade de opiniões. A verdadeira inclusão não deve ser alcançada pela imposição de normas linguísticas estritas, mas sim pela criação de um ambiente onde todas as vozes são ouvidas e respeitadas, mesmo quando discordamos das escolhas linguísticas uns dos outros.
Este debate é fundamental para a construção de uma sociedade que promova a liberdade de expressão enquanto busca garantir um ambiente respeitoso e inclusivo para todos os seus membros.
Além dos exemplos mencionados, há uma série de casos onde a aplicação do politicamente correto pode limitar a liberdade de expressão. Por exemplo, em contextos acadêmicos e artísticos, a necessidade de conformidade linguística pode restringir a exploração de temas controversos ou desconfortáveis, essenciais para o avanço do conhecimento e da reflexão crítica.
No campo da comédia e entretenimento, comediantes muitas vezes enfrentam críticas e boicotes por piadas consideradas ofensivas pelo padrão do politicamente correto vigente. Isso não apenas limita a criatividade e a sátira, mas também alimenta um clima de autocensura onde o humor pode ser diluído em prol da segurança emocional.
Além disso, a censura implícita do politicamente correto pode distorcer a narrativa histórica ao evitar termos ou descrições que são vistos como insensíveis ou inadequados para os padrões contemporâneos. Isso pode privar as gerações futuras de uma compreensão completa e honesta do passado, impedindo um diálogo aberto sobre questões complexas e multifacetadas.
Portanto, enquanto reconhecemos a importância de promover sensibilidade e respeito nas interações humanas, é crucial não permitir que o politicamente correto se transforme em uma forma de censura que silencia perspectivas divergentes e compromete a liberdade de expressão. A verdadeira inclusão e progresso social surgem do diálogo aberto e da troca livre de ideias, mesmo que estas possam desafiar as normas estabelecidas ou causar desconforto temporário.
Ao navegarmos pelo território delicado do politicamente correto, devemos manter um equilíbrio entre o respeito pelas sensibilidades individuais e a defesa fervorosa da liberdade de expressão. Somente assim poderemos construir uma sociedade verdadeiramente inclusiva, onde todas as vozes são ouvidas e respeitadas, independentemente das palavras que escolhemos usar para expressar nossas ideias e experiências.
Em conclusão, encontrar um equilíbrio entre sensibilidade e liberdade de expressão é essencial para uma sociedade que valoriza tanto o respeito mútuo quanto a autenticidade na troca de ideias e experiências. Enquanto o politicamente correto pode oferecer diretrizes úteis para uma comunicação mais inclusiva, é crucial estar vigilante contra os excessos que podem transformá-lo em uma forma de censura. A verdadeira riqueza da linguagem e da comunicação reside na diversidade de vozes e na capacidade de expressar livremente nossas experiências e pontos de vista, sem medo de repercussões injustas ou limitações artificiais.
Este debate contínuo é essencial para moldar um futuro onde a liberdade e a autenticidade sejam preservadas como pilares fundamentais de uma sociedade progressista e democrática.
Escrito e Publicado em 18/07/2024
O Que Significa o “Politicamente Correto”? 11 Exemplos de Como a Esquerda Impede Um Debate Verdadeiro de Ideias
Adolfo Sachsida
Seus defensores argumentam que o politicamente correto é uma forma de tornar menos conflituosa a convivência em sociedade. Por exemplo, não faz sentido ofender as pessoas usando termos inapropriados de linguagem. Contudo, não ofender pessoas é apenas uma regra de boa educação que nada tem a ver com o politicamente correto.
A rigor, o politicamente correto é uma forma de se limitar o debate e a livre circulação de ideias em uma sociedade. Pior do que isso, o politicamente correto busca a implementação de uma agenda progressista numa sociedade que, de outra maneira, não aceitaria tal agenda. Abaixo listo alguns exemplos:
1) Um terrorista do Estado Islâmico mata 12 pessoas fazendo uso de um caminhão para atropelá-las. A manchete da Folha de São Paulo foi: “Caminhão atinge mercado de Natal em Berlim e mata pelo menos 12 pessoas“. Quem lê a manchete tem a impressão de que um caminhão desgovernado matou acidentalmente 12 pessoas. Isso ocorre pois o politicamente correto impede que se de destaque ao fato de que mais um ataque terrorista foi levado a cabo por um seguidor do islã.
2) Experimente dizer que a politica de cotas raciais é ineficiente ou injusta. Ou ainda experimente dizer de que nem tudo que se atribui a discriminação contra a mulher não é exatamente discriminação. Ou tente dizer que a taxa de homicídios específica de determinado grupo social não representa, por si só, indícios de perseguição àquele grupo. Você será imediatamente taxado de racista, fascista, homofóbico, misógino, e coisas bem piores. Isso ocorre pois o politicamente correto impede a discussão aberta e franca de termos que são sensíveis a minorias barulhentas e bem organizadas.
3) Na sua opinião qual a maior dificuldade para uma criança ser adotada? Você foi bombardeado com tantas informações erradas que provavelmente responderá dizendo algo do tipo “As pessoas só querem adotar crianças brancas e novas, uma criança negra com mais de 10 anos ninguém quer adotar”. ERRADO! Esse simplesmente não é o problema. A rigor existem muito mais pessoas querendo adotar crianças brancas e novas do que crianças negras e de mais idade. CONTUDO, o número de pessoas querendo adotar crianças negras de mais idade É MAIOR do que o número de crianças negras disponíveis para adoção. No que se refere a adoção existem três problemas reais: a) poucas pessoas aceitam adotar crianças deficientes ou doentes; b) a maioria das pessoas quer adotar apenas uma única criança, dessa maneira crianças com muitos irmãos tem dificuldade de serem adotadas; e c) a gigantesca demora na burocracia referente a adoção da criança. São esses três pontos que deveriam estar sendo atacados para resolver o problema referente a adoção. Mas o politicamente correto gasta um tempo gigantesco querendo discutir um ponto que simplesmente não é a restrição real desse terrível problema social.
4) Vários grupos pressionam para que o governo combata a violência contra a mulher, justificam inclusive a criação de um tipo criminal chamado de “Feminicídio” para alertar que a violência é perpetuada por homens contra mulheres. Bom, vamos aos dados: a taxa de homicídios entre mulheres é de 4 a cada 100 mil habitantes, para os homens esse taxa é de 50. Em resumo, a taxa de homicídios entre homens é 12 vezes maior do que a taxa de homicídios entre mulheres. O real problema é a violência absurda que assola o Brasil, aqui homens e mulheres são covardemente assassinados todos os anos. Esse é o problema real a ser combatido.
5) Experimente ir numa aula de direito penal e dizer que prender bandidos diminui a criminalidade. Você será olhado de lado e dirão que você é mais um radical de direita fascista. Contudo, TODOS os estudos econométricos que conheço mostram que prender bandidos é uma das mais eficientes maneiras de se combater o crime. Mas sempre haverá um professor, um jornalista, um intelectual, ou um estudante para dizer “Eu prefiro construir escolas a construir presídios”…. como se isso fosse o ponto do debate! Óbvio que todos preferem construir escolas a cadeias, mas existem situações que nos obrigam a construir cadeias (a alternativa seria a aplicação de uma pena física ao infrator, será que é isso que os defensores do politicamente correto querem?). Para os defensores do politicamente correto prender bandidos não resolve o problema, para eles o problema é estrutural. Logo prender seria inócuo para combater o crime. Mas se prender não resolve qual é a sugestão, devemos não prender? Eles irão argumentar que a solução está na educação, numa melhor distribuição de oportunidades, de mais consciência social, etc. OK, todos concordamos com isso. Mas o fato é que prender bandidos não impede nada disso. Mas confrontados com essa lógica implacável eles nunca respondem.
6) Cristãos são perseguidos e assassinados ao redor do mundo, mas a imprensa em vez de noticiar isso prefere se preocupar com um provável crescimento da islamofobia. Ora como se não fosse natural temer aqueles que prometem nos exterminar se assim tiverem a chance, como é o caso de vários grupos radicais islâmicos. O crescimento da islamofobia se deve não ao preconceito, mas ao simples fato de que diversos grupos radicais islâmicos tem realizado ataques terroristas. Mas o politicamente correto impede que isso seja sequer discutido nos grandes meios de comunicação.
7) A esmagadora maioria da população é contra o aborto. Então o que faz o politicamente correto? Muda o nome de aborto para “direito de escolha”. Como se uma escolha já não houvesse sido feita quando o casal decidiu ter sexo sem proteção (o estupro é exceção a essa regra).
8) Quantas pessoas você já viu defenderem o porte de arma na grande mídia? São 60 mil homicídios por ano no Brasil, um fracasso incrível de nossas políticas de segurança pública, mas mesmo assim tirando o heroico Bene Barbosa é muito difícil ver pessoas defendendo o direito ao porte de armas com acesso a grandes veículos de comunicação. Isso ocorre pois o politicamente correto já estabeleceu que apenas radicais de direita defendem o direito do cidadão comum ter acesso a armas de fogo.
9) Diga que você apoia o Trump, pronto você virou ultra radical conservador. Diga que você apoia o Brexit, pronto você é um xenófobo imbecil. O politicamente correto é assim, ele bloqueia qualquer discussão honesta e a substitui por rótulos. Os que defendem as pautas do politicamente correto são taxados de pessoas boas, sofisticadas, inteligentes, moderadas, etc. Já os que não defendem tal pauta são radicais, ultra conservadores, xenófobos, intolerantes, golpistas, e outras coisas ruins.
10) No Brasil a esmagadora maioria das crianças não sabe ler e nem escrever, e são incapazes de fazer contas simples. Mas defenda que as aulas de sociologia, filosofia, e artes sejam trocadas por aulas de português e matemática e você automaticamente vira um canalha que quer criar um exército industrial de reserva, um radical que não quer que as crianças aprendam, e que sejam escravas do sistema.
11) Os índios brasileiros estão na miséria e cheios de áreas reservadas a eles. Sugira que não resolveremos o problema indígena dando mais terras aos índios e você será rotulado de um branco que não aceita que os índios são felizes passando frio e fome.
O grande problema do politicamente correto é que ao impedir o livre trânsito de ideias, e o livre debate, políticas públicas passam a ser direcionadas para corrigir problemas que não necessariamente são os mais importantes para aquela sociedade. Em resumo, desperdiçam-se recursos públicos em políticas que nem de perto são as mais necessárias. Pior, em muitos casos o politicamente correto cria problemas que sequer existiam na sociedade. Por exemplo, o Brasil é um exemplo no que se refere a miscigenação. Não digo que não exista preconceito, mas o fato é que a política de cotas raciais pode perfeitamente estar criando atritos raciais que antes eram inexistentes. Mas, se alguém sugerir isso será imediatamente taxado de imbecil ou coisa pior. Contudo, o livro de Thomas Sowell (Ação Afirmativa ao Redor do Mundo) mostra que após a implementação de cotas o atrito entre grupos distintos costuma aumentar em todas as sociedade que implementaram ações afirmativas.
Chamar terrorista de terrorista, bandido de bandido, e aborto de aborto é uma regra simples de qualquer debate honesto. Ao se proibir o uso de termos bem definidos, o politicamente correto confunde e bagunça completamente o debate. Deixo aqui um vídeo que ilustra meu ponto: nele um negro gordo e homossexual conversa com alguns estudantes que seguem a cartilha do politicamente correto. Quando o negro sai o entrevistador pede aos jovens para descreverem a pessoa que saiu. O resultado é assustador! Os alunos simplesmente NÃO CONSEGUEM dizer que conversavam com uma pessoa negra, gorda e homossexual.
Entendeu a dimensão do problema? A cartilha do politicamente correto impede a correta descrição do mundo real. As pessoas passam a ser incapazes de descrever situações simples do seu cotidiano. No lugar de descrever situações o politicamente correto estabelece apenas rótulos. O politicamente correto não debate, ele rotula. Se você é incapaz de sequer descrever uma situação de seu cotidiano como você será capaz de entender problemas mais complexos? O politicamente correto é a ditadura do pensamento único, e geralmente errado.
Publicado Por Rodrigo Constantino, Gazeta do Povo, 26/12/2016 12:32
https://www.gazetadopovo.com.br/rodrigo-constantino/artigos/o-que-significa-o-politicamente-correto-11-exemplos-de-como-esquerda-impede-um-debate-verdadeiro-de-ideias/
Publicado em: 19/07/2024
Do Livro:
Samizdat: Arquivos de Censura
Barata Cichetto
Crônica Política
260 Páginas – 16 x 23 x 1,5cm
UICLAP, 2024
(Lançamento em 18/08/2024)
Barata Cichetto, Araraquara – SP, é o Criador e Editor do BarataVerso. Poeta e escritor, com mais de 30 livros publicados, também é artista multimídia e Filósofo de Pés Sujos. Um Livre Pensador.
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