Vômito de Metáforas | Da Eterna “Linchaquara”, Cidade Sem Brilho Nem Luzes, Espero Apenas a Terra do Cemitério das Cruzes

Atualizado em: 30/10/2024, as 10:10

O que é mais engraçado? Falar do Soldado, do Cabo ou do Capitão? Falar do safado, do fado ou do cafetão? O que é mais consistente? Falar mal do presidente. Do assistente? Ou do Deus falso Onipresente? Falar do verdadeiro Deus ou do Inominável Presidente. Não é de cara o que o pretendente. Acha pertinente. Ainda lembras quanto são é dois mais dois? Espero a resposta para depois. Que agora ora pois. Que em Portugal. No meio do matagal. Como cantaram o Caetano e a Gal. Carecem da leitura de Camões. De Pessoa e dois limões. Abastecidos nas elegias dos simões. Que vestes são essas, minha filha. Perguntou Cabral ao chegar à ilha. E a índia respondeu que era moça de família. “Mas Cabral sentiu no peito. Uma saudade sem jeito.” E como seu último feito. Comprou a vaspe e a varigue do alemão. E assim o céu azul de antemão. Virou tão brasileiro quanto cagar na mão. Mas o tal Pedro que não era o Álvares mas o foi o Primeiro. E se achava tão brasileiro. Como o arroz Brejeiro. — Lembro agora do Caminha. Que não era o Alcides, mas o Pero Vaz que escreveu singela cartinha. Falando do que a terra continha. Sobre as maravilhas ordinárias. Imaginando as linhas imaginárias. E sugerindo as hereditárias. E teve também um tal de Tchimataro que era japonês. Filho de um artista polonês. Com um transformista chinês. Que no Japão subiu na porra de uma tartaruga. E há quem diga nas costas de uma baleia beluga. Que no nariz esquerdo tinha uma verruga. E assim sendo veio o oriental nas costas do quelônio. Bater nas costas do demônio. Sem Viagra e sem hormônio. O tal de Taro era só um pescador. Então das terras de índio caçador. Virou a caça de um belo conquistador. Então disse o português. Falando como se fosse um nobre irlandês. — Shimataro, seu fodido japonês. Ou você pega um avião que ainda nem foi inventado. Ou será estuprado. Por nosso Presidente condenado. E assim como do nada criou-se a primeira invenção. Da mais nova nunca Nação. A primeira Revolução. Mas depois que Xi-mataro. Um japonês nem tão raro. Pagou pela viagem de volta um valor muito caro. Ficamos nós na Ilha de Vera Cruz. Na Terra de Santa Cruz. A tomar leite com cuscuz. — Num daqueles dias. Escreveu Gonçalves Dias. Em rimas fugidias. “Minha terra tem palmeiras onde canta o Sabiá, as aves, que aqui gorjeiam, não gorjeiam como lá.” E eu que não conhecia. O homem que dá nome. À Rua Um. Só sabia. Da “Canção do Exílio”. Que veio em meu auxílio. E aqui moro no Sabiá. Que não gorjeia como lá. Não importa se num apartamento. Ou num departamento. É grande o meu tormento. E para minha infelicidade. Tiraram os trilhos da cidade. Porque prefeite eleite. Pessime sujeite. Que gosta de leite. Acha que trem é enfeite. Embora se deite. Lambuzado de azeite. E na cama aceite. Quem dele se aproveite. Daquilo que foi feite. E se deleite. De tode malfeite. Ah, esse confeite. Que ainda há quem respeite. E que sonho um dia se endireite. Ou que o caminho lhe estreite. Ou com o Capeta se deite. E como o Urashima. Que não sei se mataro. E ainda por cima. Na cabeça cagaro. Fico aqui escrevendo canções de exilado. E tomando litros de destilado. E tanto faz o Araraquaristão. A Índia ou o Paquistão. A distância é a questão. Mas não sito saudades “de lá”. Porque se acá não tenho amores. Por lá não tem primores. Apenas lembranças de horrores. E se por lá deixei meu eu-lírico. Por cá matei meu verso empírico. Estrangulei meu lado onírico. E nunca mais compus um poema satírico. E então caminho pelas ruas numeradas. Procurando por putas e namoradas. E acima da Padre Duarte. Encontro o oásis da Arte. Que da minha parte. Elejo como vitória e baluarte. Não é uma Tabacaria. Mas lá também há Pessoa. Uma enorme livraria. Que nesta cidade morta ressoa. “Não sou nada, nunca serei nada”. Digo logo na entrada. E o dono da livraria sorriu. Assim que me ouviu. Brinco feito criança nas prateleiras. Apanho livros como uvas em videiras. Navego por mares “nunca dantes navegados”. Subo em mastros envergados. Livros são enormes e antigos barcos. Me diz o dono que não é “Esteves sem metafísica”. Mas um barqueiro chamado Marcos. Ficamos por ali embaixo da tabuleta na calçada. Fumando nossos tabacos. E falando da mulher engraçada. Que usa sapatos que parecem cascos. Sei que ele não gosta do meu verso vomitado. Então pego um livro na prateleira do Machado. Fundador da Academia. Que por culpa da infodemia. Virou antro de comunistas de prontidão. Que encadeira o Gil e o Brandão. Me despeço do dono da Livraria. Desço a Brasil e entro na Tabacaria. Acendo outro cigarro. “Continuo fumando. Enquanto o Destino mo conceder, continuarei fumando”. Porque “no cigarro a libertação de todos os pensamentos”. Até esqueço minha condição de antipessoa. E recito mentalmente o Pessoa. Mais a frente a Prefeitura. Onde reina a criatura. Que abastece a Ditadura. De baixa estatura. E quase nenhuma estrutura. — Resta-me o Gonçalves de todos os dias. O Machado e seu achado. E enfim o Pessoa que em mim sempre ressoa. E na toca da arara. A lendária e eterna “Linchaquara”. Cidade sem brilho e sem luzes. Espero apenas a terra do Cemitério das Cruzes.

26/05/2024

Do Livro:
Vômito de Metáforas
Barata Cichetto
Gênero: Crônicas Poéticas
Ano: 2024
Edição:
Editora: BarataVerso
Páginas: 248
Tamanho: 20 × 20 × 1,50 cm
Peso: 0,500

Barata Cichetto, Araraquara – SP, é o Criador e Editor do BarataVerso. Poeta e escritor, com mais de 30 livros publicados, também é artista multimídia e Filósofo de Pés Sujos. Um Livre Pensador

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