Atualizado em: 30/10/2024, as 10:10
E agora pergunto o que tem a ver. O que ainda posso viver. Com meu instinto de sobreviver. Aliso meu pau debaixo da bermuda. A resposta é muda. Devo pedir que Deus me acuda. Comprar remédio para minha falta de libido. Ou me sentir oprimido. Pelo que tenho sentido? A quem devo culpar pelo não desejo. A falta de ensejo. E o asco pelo beijo? Há décadas tantas que nem recordo. Desde que acordo. E ao meu próprio barco abordo. Feito pirata sem pátria e sem bandeira. Um poeta sem uísque e sem banheira. Sem o que é isso nem companheira. Abraço a amante que a noite me deixa tão só. Quanto a pedra toda branca do dominó. E igual a ela sem pena e sem dó. — Sou devoto de Ayn Rand a Santa. Tsktsktsk Não seja um barata sacripanta. Penso eu como quem se espanta. Pego na estante O Processo. E prenso em meu crime pregresso. “Vamos em frente que atrás vem o retrocesso” . Diz meu amigo Renato. Com quem tenho um não assinado trato. De que diz que o feito é fato. Completando com virtude e emoção. Sobre atitude e vocação. E declara o bardo: “compreendo e respeito com devoção”. — Penso nas minhas epopeias. Escrevo tudo como se fossem prosopopeias. E tudo acaba em Pornomatopéias. Feito humano brigo com a Inteligência Artificial. Pego a errada estrada vicinal. E erro o estribilho do Hino Nacional. Me sinto Burro Feito Um Tijolo de barro. Vomito tudo num escarro. E não entendo nada de gente e de carro. — Meu avô morrendo fodendo. Quero morrer escrevendo. Por hora fodo uma vez por mês e vou vivendo. Enquanto minha vó morreu fumando. Eu prefiro morrer cagando. Mas por agora apenas vou andando. Um tio morreu de cirrose. Outro de overdose. Mas eu daqui vou tossindo e tomando outra dose. E tem o primo que morreu de por luxúria. E outro parente de penúria. E eu sigo no meu “ritmo de fúria”. Tem por fim o eterno amigo irmão. Que se foi sem nada na mão. E sigo quase morto pelo câncer de pulmão. Um avô se foi pelado. E o outro partiu congelado. E sigo eu dos dois jeitos, um morto sem ser velado. Todos os pais têm filhos. Mas nem todos os filhos tem pais. E eu que sou pai não tenho filhos. E sendo filho não tenho pais. E o que me resta é apenas um Corvo dizendo “nunca mais”. Jamais! — “Minha mãe me disse há tempo atrás. Onde ocê for Deus vai atrás”. E que melhor me conhecia. Porque tinha me carregado na barriga vazia. Ela nunca a mim ouvia. Então lhe disse verdades adolescentes: Que eu melhor eu a via. Porque dentro dela eu vivia. Nove meses dentro dela e até a cor de suas tripas eu conhecia. — Penso agora em meu frágil pensamento. Que esses Vômitos de Metáforas são meus mais que meus tormentos. São meus minhas memórias e meus testamentos. Apenas lamento não ter mais que dois leitores. O desejo maior de quaisquer escritores. É que são tão vaidosos tanto os poetas quanto os eleitores. Quem sabe um dia depois que nada mais de mim restar. Minha poesia irá a algo se prestar. E assim os herdeiros comunistas terão dinheiros para emprestar. Espero apenas que não insultem meu cadáver insepulto. Que escutem a voz do meu insulto. E ainda no ódio que me nutrem permitam-me o último salmo do culto. — Pensei aos dezesseis que morreria feito Azevedo aos vinte um. Depois aos dezenove aos vinte e sete como Morrison. Depois aos vinte e nove achei que partiria aos quarenta e quatro como Presley e Seixas. Agora aos sessenta e seis. Não acho que chego aos sessenta e nove como Bowie. “Look at me I’m heaven”. Só que como ele não voltarei ao espaço. Não sou Ziggy. David era único. Onde ninguém mais como ele irá existir. Muito menos aos setenta e um do Lewis Allen. Que conheceu a barra pesada. Casou com travesti. E até tomou choque para deixar de ser viado. — Neste mundo de tanta tecnologia. Que não é capaz de conter sequer uma mera hemorragia. Lamento a ausência das putas e da blenorragia. Devoro a mim mesmo numa autofagia. Depois desato a tagarelar nesta verborragia. E concluo que no fim tudo é morte ou acaba em magia.
25/05/2024
(*) Renato Pittas
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Do Livro:
Vômito de Metáforas
Barata Cichetto
Gênero: Crônicas Poéticas
Ano: 2024
Edição: 1ª
Editora: BarataVerso
Páginas: 248
Tamanho: 20 × 20 × 1,50 cm
Peso: 0,500
Barata Cichetto, Araraquara – SP, é o Criador e Editor do BarataVerso. Poeta e escritor, com mais de 30 livros publicados, também é artista multimídia e Filósofo de Pés Sujos. Um Livre Pensador.