Atualizado em: 30/10/2024, as 10:10
Quero falar agora sobre quem me atura. E que não é vendedora da Avon ou da Natura. E que de pés juntos jura. Que conhece a cura. Para a obscenidade. E desconjura. Quando revela sua idade. Acha que é dura. A sua realidade. E garante que é pura. A sua verdade. E pensa que é segura. Sua maternidade. E conjura. Dizendo que não é falsa sua dentadura. E tem na sua candura. A melhor qualidade. Sem qualquer doçura. Ou mesmo vaidade. — Falo agora sobre ela. Que como numa fotonovela. Nunca pintou uma tela. Ou escreveu um livro de memórias. Cujas excêntricas histórias. Seriam suas eternas glórias. E fosse eu um escritor de fabulosas estórias românticas. Ou poesias quânticas. Ganharia um prêmio. E seria destaque na sala de troféus do grêmio. E que sem dúvida seria um abstêmio. E falo agora eu sem eira nem beira. Sobre a mulher certeira. A única e verdadeira. E que de sábado até a sexta-feira. Sabia que o prazer não é fêmea nem macho. E é o que eu poeta acho. Neste instante, que não sem querer. Aconteceu de nascer. No santo dia do prazer. E assim, o que lhe haveria de trazer. Teria muito o que fazer. Do que poderia ela sem rumo. E nem prumo. Foi aquilo tudo que queria. Muito mais do que podia. Foi cadela e foi vadia. E depois como musa virou poesia. Jorrou líquidos densos. Fruto de seus orgasmos intensos. Deu de tudo e mais um pouco. A tudo quanto é louco. Se deu ao mudo e ao mouco. E chupou o pau do cornudo e do rouco. A ela o gozar era quase tudo. Porque gostava de homem pintudo. E se satisfazia, sobretudo. Com qualquer sujeito cabeludo. Dar prazer ela sabia. Fazendo tudo o que queria. O macho de sua companhia. E como fêmea de javali grunhia. Também gostava a pouco pudibunda. De dar o buraco da sua bunda. E feito a uma boa vagabunda. Dava na primeira, nunca na segunda. E como qualquer fêmea arredia. Ela nunca se arrependia. Quando a qualquer homem traía. E com tudo isso se distraía. — Continuo a falar da insaciável. Da sacanagem indissociável. E que foi a única responsável. Por aquilo que é fiável. Foi ela minha fiança. O meu atestado de confiança. E que me despertou a esperança. Como se eu ainda fosse uma criança. E assim como disse o poeta alemão. De antemão. Como poeta e como homem acertei a mão. E ganhei mais fôlego no pulmão. E comigo foi vadia. Com tesão e ousadia. Em qualquer noite e todo o dia. Fazê-la gozar eu sempre podia. Tudo nela era febril. Da boca ao quadril. Uma vadia pueril. De Maio até Abril. A maior puta do Brasil. Mostrei lhe o líquido gozo. Doce mistério gozoso. Choque elétrico delicioso. Para o meu proveitoso. Orgasmo leitoso. Todas as noites eram de pura poesia. Coisa que a gente fazia. Comendo dos deuses a ambrosia. E pelo mundo inteiro esparzia. Até cresceu meu membro. Que percebi em Setembro. Mas do ano não me lembro. E pode ter sido em Dezembro. Mês em que recordo. Todos os dias quando acordo. E que sempre concordo. Que foi minha saída a estibordo. Como cobra louca se contorcia. E até meu pau torcia. O seu gozo me pertencia. E por sua garganta minha porra descia. — Mudo agora de tom. E não sei se agora o som. Vai-lhe parecer bom. Ou se lhe fará borrar o batom. Afasto de mim agora o ciúme e a digressão. E me quedo agora em depressão. Tento acalmar minha ira. Sob ou sobre a mira. Da arma de um tira. Que de medo delira. E do viaduto se atira. Falo da imperatriz. Que chamaram de porca meretriz. E que por um triz. Decerto pela sua vocação para atriz. Não queria ser nada além de feliz. E assim me tornei seu aprendiz. E fiz. Porque quis. Agora seria um morto nesta era. Feito uma quimera. Afundado em um poço. De pessoa um mal traçado esboço. Sem conseguir apesar de muito esforço. — Acredito na poética e na antiga sanha. Que para a Rainha de Portugal ou o Rei da Espanha. Que pensam que qualquer coisa que desafie sua expressa vontade. E assim será tratado como inverdade. Por horas penso. Eu, o poeta sem senso. E muito propenso. Um doente hipertenso. A escrever coisas sem nexo. Falando de sexo. Porque sou poeta perplexo. E da realidade desconexo. E assim mesmo e por rima. Mesmo que o ditador me oprima. Estarei sempre acima. Daquele que me recrimina. Então caminho na selva. Me deito na relva. Assim choro pela minha própria morte por sina. Decretada pela pena assassina. Besta agressina. Que por extenso ainda assina. Um sujo decreto. Que age de modo secreto. Com base em nada concreto. Para eleger o condenado que excreto. — Acordo agora na calada da madrugada. Buscando minha imaginária espingarda. Que sempre ficava guardada. No cofre de uma antiga empregada. Então no quarto entrincheirado. Ajo como quem tenha cheirado. E contra mim conspirado. Apenas eu, poeta pouco inspirado. Então lembro daquela nascida no dia do Marquês. E que sabe, como Sade, os seus porquês. Enquanto eu, pequeno poeta burguês. Tropeço nas rimas e no português. Então em lugar de odiar o Sol. Faço uma ode sincera à Giraçol. Lembrando com saudade dos dias. Quando éramos duas almas vadias. A nos comer como se fossemos um par de antropofágicos. Belos e adornados animais mágicos. — Agora no entanto quando lhe vejo. E às tuas intenções antevejo. Um mero sinal de desejo. Ainda me rendo ao ensejo. É que eu no fundo sou mesmo um desgraçado. Que até se acha um pouco engraçado.
02/06/2024
Do Livro:
Vômito de Metáforas
Barata Cichetto
Gênero: Crônicas Poéticas
Ano: 2024
Edição: 1ª
Editora: BarataVerso
Páginas: 248
Tamanho: 20 × 20 × 1,50 cm
Peso: 0,500
Barata Cichetto, Araraquara – SP, é o Criador e Editor do BarataVerso. Poeta e escritor, com mais de 30 livros publicados, também é artista multimídia e Filósofo de Pés Sujos. Um Livre Pensador.