Atualizado em: 30/10/2024, as 10:10
Estou chegando ao fim dos Vômitos de Metáforas. Que de início eram Agulhadas. Depois viraram Pornomatopéias Dois. Minha meta eram cem. E esta é a noventa e nove. E sei que minha antiliteratura a ninguém move. E muito menos comove. Mas é meu exercício de liberdade. E minha visão da realidade. Feita por minha mais livre e espontânea vontade. Se é mentira ou verdade. Pouco me importa. Se ela me abre a comporta. Ou me mantém atrás da porta. É também de somenas importância. É apenas minha última instância. Sem ego nem ganância. Só me farto na abundância. De vomitados enfiados pela sua garganta. Bem depois da sua janta. E sei que de nada adianta. Porque a ditadura se agiganta. E a todos ameaça. E como para qualquer bobagem é pouca a desgraça. Mal paga ou de graça. Sofro calado todas as ausências. Como se estivem em publicas audiências. Com velhos sábios das ciências. Misturo alhos com bugalhos. Bucetas com caralhos. E percebo em frangalhos. Minha esperança que sempre foi tardia. Falo da criança e da vadia. Da sua falta de coragem e minha covardia. Misturo tristeza com merda. Reclamo de quem me herda. E brigo até com a lesma lerda. Poesia, política e putaria. É o que sempre me enseja essa porcaria. Que na Academia nunca passaria. Pela portaria. Lamento o que eu poderia ter sido. Do que nada me tenha acontecido. E de a todos menos a mim pertencido. Alego insanidade. Declaro inocência no Tribunal da Verdade. E depois cuspo no prato da perenidade. Misturo as putas da Ipiranga com a Aurora. E da esquina da Augusta com a Timbiras. Com as megeras com quem fui casado. À noite todos os gatos são pardos. E nas janelas dos sobrados. Todos os velhos são tarados. Penso na sujeira das calçadas. Lembro das figuras desgraçadas. E nunca esqueço das bichas engraçadas. Falar de bichas e travestis e outros termos. São perigosos nestes tempos ermos. Onde seres humanos estão todos enfermos. Dizem que na minha idade. Eu deveria apenas chorar de saudade. E sorrir de felicidade. Afinal até estou aposentado. E tenho que ser recatado. E aceitar de velho ser chamado. — Perdi meus filhos na feira. E quem achou foi uma puta rampeira. Que lhes foi madrasta e alcoviteira. Achei de ser amigo. E aí foi que corri o maior perigo. E é por isso que agora eu digo. Que arrependimento é coisa que mata. Perdão é o que mais maltrata. E desprezo é doença que não se trata. Achei de perder o que tinha. E dar tudo o que em mim continha. Mas nunca colhi as uvas da minha vinha. Agora o que me resta é apenas a amargura. Olhar para a rua escura. E apertar o que não segura. E não deveria ficar surpreso. Por ter sofrido o desprezo. Dos que veneram um bandido preso. Condenado em três estâncias. E por força de estranhas circunstâncias. Libertado e gratificado com abundâncias. — Emagreço a olhos vistos. Encaro demônios e anticristos. Até que me devorem os meus quistos. Um dia falei que um buraco na escuridão era a luz. E que a qualquer caminho a morte conduz. Agora enxergo que ouro puro nunca reluz. Lembro da infância e de pés de ameixas. Da quase namorada loura e suas madeixas. Percebendo que de tudo me sobram apenas queixas. Queda-se agora meu olhar ao teclado do computador. Que sofre com minhas pancadas sem reclamar de dor. Nem das lamúrias de um velho servidor. “Isto fica feliz em servi-lo”. (A frase do Homem Bicentenário. Que nunca saiu da minha cabeça). Há tempos que sou apenas “Isto”. Ou “Aquilo” E pelo visto. Peso menos de meio quilo. Há tempos que não sonho acordado. Estou sempre preocupado. Confuso e atordoado. “Dazed and Confused” é a música do meu funeral. Tragam a banda e esqueçam o General. Sirvam Jack Daniels no lugar de água mineral. Estou morto há tempo demais. Desde que “Nevermore” me disse: “Nuncamais”. E nas asas do corvo retornarei jamais. E por falar em corvo. Penso que há muito sou apenas estorvo. Que a toda sorte de azar bebo e absorvo. E agora desejo categórico. Antes do final vomitado metafórico. Nesse meu regurgito eufórico. Que “não se preocupe meu amigo. Com os horrores que lhe digo”. Porque estou longe de ser seu maior perigo. — E aguardem o último capítulo desta saga maldita. De alguém que ainda acredita. Que a tal de vida poderia ser muito bonita.
28/05/2024
Do Livro:
Vômito de Metáforas
Barata Cichetto
Gênero: Crônicas Poéticas
Ano: 2024
Edição: 1ª
Editora: BarataVerso
Páginas: 248
Tamanho: 20 × 20 × 1,50 cm
Peso: 0,500
Barata Cichetto, Araraquara – SP, é o Criador e Editor do BarataVerso. Poeta e escritor, com mais de 30 livros publicados, também é artista multimídia e Filósofo de Pés Sujos. Um Livre Pensador.