Atualizado em: 30/10/2024, as 10:10
Este sou eu mesmo. Que atiro a esmo. E adoro cerveja com torresmo. Eu que escrevo torto por linhas retas. Para horror dos profetas. E riso dos poetas. Aquele em quem ninguém acredita. E por desgraça bendita. Adora batata frita. Sou o que estou. Apenas o que de um homem restou. E que dizem nunca prestou. Que se transformou numa metamorfose. Que teve fimose. E que morre por cirrose. Sou este mesmo o eu. Apenas o que tenho por meu. E que Clementina não comeu. Um ser antipático. Um tanto problemático. E dizem as línguas ferinas muito dramático. Que nunca foi chamado à festa. E a quem apenas resta. Aquilo que não presta. Pequenino na Terra de Gigantes. Grama na dos elefantes. Mendigo em festa de elegantes. Fui um dos Perdidos no Espaço. Em busca de um abraço. Fugindo do planeta do cansaço. Caminho pelo Túnel do Tempo como viajante perdido. E pelo contratempo. Me sinto arrependido. Por ter sido traído. Minha Jornada nas Estrelas sem ponte nem comando. Encontrou apenas o desmando. De quem poderia estar me amando. Pai de prodígios filhos. Mas um trem fora dos trilhos. E cego pelos próprios brilhos. Até que fui longe demais. Diria o corvo “nuncamais”. E eu lhe responderia: “Jamais!”. Tenho unhas encardidas. E Memórias Arrependidas. E nunca me esqueço das perdidas. — Agora reconheço meu ocaso. Mas se resista por acaso. Juro que ainda me caso. Mas deixem as portas abertas. Às que de mim foram libertas. E como putas descobertas. Cortem dos anjos as asas. Que desabem sobre as casas. E queimem sobre as brasas. Doem meus livros aos mendigos. Que tenham seus castigos. Aquecendo seus abrigos. Guardem meus escritos. E entreguem aos proscritos. Afastem os herdeiros malditos. — Ontem sangrei feito um porco. E disseram que era pouco. E que eu merecia ficar louco. Achei que era fome o que eu sentia. Mas era a podridão que me acometia. E que a mim mesmo eu mentia. Eu sabia que tinha nome. Que talvez fosse um pronome. Aquela coisa que não se come. E que de qualquer sobrenome. Como quem dorme. Eu chamava de palavra enorme. Agora na garganta sinto uma foice. Nas costelas um coice. Que junto com um martelo de ferro. Calam de mim o último berro. Ainda caminho feito o Fantasma. Um mero espirito com asma. A sombra de plasma. Busco na morte a vingança. Mato a pauladas a esperança. Me resta ainda a última dança. Escrevo como quem vomita. Vomito em quem acredita. E vomito como se fosse uma escrita. Repito que sou o mesmo eu. Caótico Apoteótico Ateu. Que em merda sempre se meteu. Já fui chamado de muita coisa suja. Um tempo foi Coruja. Depois de Homem Garatuja. Sempre de mim mesmo um verdugo. Um divino demiurgo. Que sucumbiu ao expurgo. Acabo soterrado em pilhas de livros não lidos. Outros enterrados floridos. E tantos aterrados por serem polidos. Acreditei nas fábulas erradas. De princesas ferradas. E rainhas vadias nas catacumbas enterradas. E agora os livros me parecem armadilhas. Que me isolam em ilhas. Governadas por caudilhas. Encomendem minha urna funerária. Uma a cova centenária. E uma roupa ordinária. Quero apenas ter tempo suficiente. Para ser poeta eficiente. Não um inútil deficiente. Não precisa comentar na rede social. Nem dizer que sou antissocial. Que nem a bandeira nacional. Serve para nada o que não for com respeito. Porque a bala que atinge meu peito. É a mesma que me torna perfeito. — Há duas classes odiosas. E nada laboriosas. Que se acham as gloriosas. De quem riem minha dentadura postiça. A da preguiça. E da cobiça. Estamos vivendo na Sociedade dos Poetas Tortos. Que parecem vivos mortos. Podres navios encalhados nos portos. — Continuo agora escrevendo o que ninguém está lendo. Sobre a morte que pretendo. Abro a minha Caixa de Pandora. Chamo Izaura de Isadora. E Izabel de Senhora. Penso em escrever poemas. Mas há tantos teoremas. Que só causo mesmo problemas. Acabo pensando nas breves bucetas. Das belas quase ninfetas. Que acabaram em punhetas. Abro outra lata de cerveja. Porque é apenas o que me enseja. A morte que me deseja. Ontem eu vomitei até o rim. Mas sei que é mesmo assim. Que alguém chega até o fim. Morro agora escrevendo. Num dia em que está chovendo. E a ninguém por hora devendo. Eu que quase nasci morto. Um fracassado aborto. Encaro o destino como um mero porto. Sempre fui navio à deriva. Uma chama rediviva. Que arderá enquanto eu viva. Deixo agora por herança. Minha mera e estúpida lembrança. Aos que vivem de esperança. Escrevo frase soltas sem nexo. E sei que deixo perplexo. O leitor que quer saber de sexo. Mas não se sinta enganado. Querido leitor envergonhado. Porque sou poeta desenganado. — Assino agora meu testamento. Com vômito e excremento. As hóstias do meu sacramento. Que sejam de alguma serventia. As merdas da minha valentia. Frutos da minha mente doentia. Ofendam-me como artista. Me condenem como machista. Só não me xinguem de comunista. Chamem-me de porco e de perverso. Roguem contra mim todas as pragas do Universo. Mas nunca condenem ao ostracismo meu verso. — Termino está carta vomitada. Com a palavra com que deve ser enfeitada. Minha última morada: Fui! Fui por ter sido. E fui por ter ido. Hoje estou passando do passado. E esperando o futuro condenado.
29/05/2024
Do Livro:
Vômito de Metáforas
Barata Cichetto
Gênero: Crônicas Poéticas
Ano: 2024
Edição: 1ª
Editora: BarataVerso
Páginas: 248
Tamanho: 20 × 20 × 1,50 cm
Peso: 0,500
Barata Cichetto, Araraquara – SP, é o Criador e Editor do BarataVerso. Poeta e escritor, com mais de 30 livros publicados, também é artista multimídia e Filósofo de Pés Sujos. Um Livre Pensador.