Vômito de Metáforas | Puteiro Não é Lugar de Putaria: (“Em Brasília Dezenove Horas”)

Atualizado em: 30/10/2024, as 10:10

Agora eu atesto. E me manifesto. No meu direito de livre pensador. Contra a tirania do condensador. Peça lógica do liquidificador. Que mói, mas não condensa… A dor. E o que me dói, mas não compensa. Nem abastece minha dispensa. É aquele que pensa. Que o crime compensa. E ainda recebe recompensa. Assim entendo minha insignificância. E chamo a ambulância. Porque em última estância. Se solta ladrão em abundância. E agora desisto das farras. E afio minhas garras. Assumo as barras. Soltando as amarras. Não perco mais meus minutos. Horas ou segundos com diminutos. Seres astutos. Que são meros redutos. Daquele a quem falta um dedo. E que tem medo. De sair à janela. Porque atrás dela. Pode haver um franco atirador. Disposto a acabar com sua farra do Ditador. Estourar a cabeça do falso Imperador. Ou fritar à bala o Usurpador. Logo chegam ao fim minhas vomitadas. Que serão imitadas. Por vadias limitadas. Com suas cabeças raspadas. E assim sendo. Subindo ou descendo. Acabo crescendo. Dividindo pelo dividendo. E acabo como a sobra. De um rastro de cobra. E assim falando. Como o nobre Fernando. Pergunto eu até quando. Estaremos aturando. — Agarro-me agora aos cabelos da Medusa. Como quem abusa. Da própria eternidade. E como quem usa seu direito a liberdade. Morro porque sou livre. Ou sou livre porque estou morto? Pergunto sem qualquer resposta. E para quem gosta. Sem rima com bosta. E sem aposta. — Há um tempo no seu dia. Para ler o que escrevo? Há uma hora na sua semana. Para ver meu rosto? Há uma hora no seu mês. Para escutar o que digo. Há um tempo no seu ano. Para ver o que pinto. E no seu século, há um tempo para perceber que eu existo? Não quero palmas nem glória. Sem aplausos nem autógrafos. Sem chás da tarde. Nem dedicatórias. Quero apenas que saibam o que penso. E mesmo se me chamam de falso escritor. Um poeta sem vocação. Queria apenas saber se caso. Ou se descaso. E por acaso. Sendo raso. Peço desculpas e perdão. Não por ira. Por humilhação. Porque escrever como faço. Demonstra o fracasso. Da instituição. E ocaso. Da Constituição. Do soldado raso. E o atraso. Da prostituição. Não quero ser lido. Por ter sido. Nem por ter ido. Apenas por ter acontecido. Como um cometa. Que caiu no Planeta. E se espatifou como um monte de bosta. Na encosta. Da montanha à beira mar. E só acredito que alguém ainda possa de mim gostar. Do mesmo jeito que se gosta. Da sua própria bosta. Que é sua, mas no fundo é uma merda. Mas pense que aquilo que se herda. Não se pode desprezar. Apenas prezar. Pelo valor financeiro. Que representa o dinheiro. Que ainda podes receber. E que sem perceber. Pode bem ser o seguro. Arquem então com suas consequências. Admitam suas ausências. E paguem não o preço, mas o devido valor. — Não há par de joelhos. Que aguente tanto pedido de perdão. E da cartola tirar tantos coelhos. Fazendo mágica para não morrer na solidão. Na esquina tem um guarda noturno. Que conversa com um oficial taciturno. Um soldado de coturno. E um policial soturno. Caminho rápido para longe dessa reunião. Porque tenho medo que minha opinião. Seja entendida como ataque à Democracia. Na atual Idiocracia. Comandada pela Juristocracia. Que de fato é uma Monocracia. Estou apenas indo ao boteco tomar alguma coisa forte. Algo que me faça parar de pensar na morte. E espero ter a sorte. E na volta não encontrar quem me reporte. No bar está passando um jogo de futebol. Ou seria de basquetebol? Nunca sei a diferença entre nenhuma dessas coisas velozes. Disputadas entre pessoas ferozes. Uns dos outros algozes. Enquanto um Juiz de Preto cala suas vozes. Em cima do bar tem um puteiro. Onde durante o ano inteiro. Putas gargalham sorridentes. Exibindo gengivas sem dentes. E tratam aos seus parcos clientes. Como se fossem seus nubentes. Há crianças dormindo na escada. E sangue na parede chapiscada. E no último degrau antes da emboscada. Há uma menina de roupa chamuscada. Sento à mesa imunda. E logo me chega uma Raimunda. Do Nordeste oriunda. E que diz ter garganta profunda. Pede um cigarro e dá um trago. Enquanto vagarosamente eu vago. Por entre as rugas do seu rosto. Verdadeiras valas de desgosto. Engulo devagar minha bebida. Enquanto a mulher desinibida. Conta que na imundice foi concebida. Penso: como pode alguém àquilo chamar de lugar de luxúria. É sim uma casa de martírio e de injúria. De tristeza farta e alegria espúria. E que o deveria ser prazer a mim virou fúria. Desço correndo a escadaria. E atrás de mim a gritaria. Com o mulherio correndo como uma infantaria. E gritando: “Aqui não se faz putaria!”. Ao longe escuto o som de um rádio que toca Carlos Gomes. E um locutor anunciando: “Em Brasília dezenove horas”.

20/05/2024

Do Livro:
Vômito de Metáforas
Barata Cichetto
Gênero: Crônicas Poéticas
Ano: 2024
Edição:
Editora: BarataVerso
Páginas: 248
Tamanho: 20 × 20 × 1,50 cm
Peso: 0,500

Barata Cichetto, Araraquara – SP, é o Criador e Editor do BarataVerso. Poeta e escritor, com mais de 30 livros publicados, também é artista multimídia e Filósofo de Pés Sujos. Um Livre Pensador

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