Atualizado em: 30/10/2024, as 10:10
Imagine um Céu de Brigadeiro. E um pijama de lã de carneiro. Depois esqueça porque nada mais há senão um carniceiro. Pense numa nação livre e cheia de prosperidade. E numa camisola cheirando saudade. Esqueça porque não há por cá a liberdade. Sonhe com a cama quente da mulher amável. E numa relação inflamável. Agora esqueça, que há apenas a Mulher Inominável. Delire com um país de pessoas contentes. E numa terra de brilhantes mentes. Depois esqueça, porque moras numa terra de doentes. Vaticine sobre o que enseje a beleza. E num mundo em que não haja a tristeza. Então esqueça, porque sobrou apenas a vileza. Raciocine sobre a vontade de ser. E num planeta sempre a crescer. Depois se esqueça, porque este mundo nada tem a lhe oferecer. — Nunca entendi a frase “ser feliz de verdade”. Mas sempre entendi o que era a felicidade da mentira. Ser feliz era maldade. E mentir era a única felicidade. Agora arde minha cabeça em pensar em toda maldade. Que suportei por minha própria vontade. E já não tenho saudade. Da tal liberdade. Talvez seja coisa da idade. Mas hoje sinto que ser livre não é coisa da liberdade. É apenas maldade. Dos que vendem à prestação a verdade. E depois cobram pagam o preço da falsidade. — Nunca fui gigante. Mas sempre fui gentil. Nunca fui elegante. Porque sempre morei no Brasil. Poderia ter escrito um tratado. Sobre folclore dos índios e das putas. Mas como sempre fui maltratado. Encerrei minhas lutas. Sou de família de colonos. Neto de quem esporava uma égua. E que por meus abandonos. Agora meço minhas tristezas apenas com minhas próprias réguas. Lembro agora que tem meses. Que não adoro meus deuses. E quem se importa com deidades. Quando o mundo é tão cheio de maldades? Treino meu cérebro para as rimas melódicas. Estratégias metódicas. E trato versos como se se fossem prosas. E a essas como se fossem mulheres gostosas. Ontem li outro livro do Nelson, o tal de Rodrigues. Mas adianto antes que me digues. E me chame de reacionário. E procure “vásefoder” no dicionário. — Ontem comi um prato de lentilha. E depois punhetei pensando na filha. De alguma puta que a pariu. E cujo pai foi o último que me sorriu. Eu queria ter comido minha enteada. Com sua cabeleira despenteada. Uma comunista desesperada. Que na cama era destemperada. Foram tantas punhetas em sua homenagem. Que já nem lembro de sua imagem. E mesmo sendo bobagem. Penso que isso foi o que me pôs à margem. Mas que culpa tenho de quere foder-lhe como uma puta? O que devo por ela ser a astuta? Uma grande prostituta. Que agora nem mais me escuta. Quando a carne pede. A gente apenas cede. E o que depois se sucede. É o que precede. Nossa própria destruição. Porque vontade sempre é prostituição. E nada além existe além da morte e da condenação. — Nada mais espero de ninguém. Como a noite nada espera do dia. O que quero de nada ou de alguém. É que não haja com covardia. Meu desejo é minha poesia. E a nenhum desgraçado peço um vintém. Só aja com hipocrisia. Que é a posse dos que nada têm. — Hoje é domingo que pede cachimbo. Mas eu no limbo. Fumo enrolado tabaco. E caio no buraco. O cachimbo é de ouro. Ou é do touro? Domingo é dia der comer macarronada. Tomar suco de limonada. Ir à feira-livre de sacola E depois assistir jogo de bola. Tenho saudades da feira dominical. Comprar um quilo de alface crespa. Depois comer pastel com suco de cana. Não tem feira nem livre no Araraquaristão. No Gulag Morada do Sol. Guardas armados nas praças. Mandam prender a respiração. Sob pena de prisão. Há quem se sirva. Do ignóbil Silva. Amigo do outro Silva. É a Ditadura dos Silvas. Um bom nome para se chamar na História do Brasil. “Longe vá temor servil. Ou ficar a Pátria Livre. Ou morrer pelo Brasil”.
26/05/2024
Do Livro:
Vômito de Metáforas
Barata Cichetto
Gênero: Crônicas Poéticas
Ano: 2024
Edição: 1ª
Editora: BarataVerso
Páginas: 248
Tamanho: 20 × 20 × 1,50 cm
Peso: 0,500
Barata Cichetto, Araraquara – SP, é o Criador e Editor do BarataVerso. Poeta e escritor, com mais de 30 livros publicados, também é artista multimídia e Filósofo de Pés Sujos. Um Livre Pensador.