Atualizado em: 30/10/2024, as 11:10
Quem está sentado à minha direita? E a minha esquerda? O pai, o filho, ou algum espírito de porco? Nenhum. Nem um. Nem dois. Ah, mas eu sou conservador… Sou? Nem sei… Acho que sei conservar a dor, num trocadilho infame. E não me chame de direitista, nem de esquerdista, nem de pacifista, nem mesmo de anarquista, que não sou ista, como disse Raul, o Seixas, aquele das queixas. Nem ciclista eu sou, mas com certeza antissocialista, e muito, mas muito mesmo, egoísta. Egoísta eu sou. E se penso em mim é porque alguém tem que pensar. Em mim. Quando pensou em mim pela última vez? Não conta agora que começou a ler esta minha declaração onanista. Sentado na pista. Então agora assista. À prazo ou à vista, o vômito sair da minha boca. E se esborrachar no chão da avenida lá embaixo. No viaduto da Barroso. É horroroso, confesso, o vislumbre. Feche os olhos. Apenas escute eu falar a fala que não cala. Deixei a mala em casa. Junto com o revólver sem bala. Então, torno a perguntar: quem está à minha direita ou à minha esquerda? Meus filhos não são, que estão embaixo. Embaixo do Inominável chupando o pau dele, chamando o lixo de pai. Meus pais também não, que estão preocupados em me negar. O resto não me resta. Que não presta. Nem para renegar. Acordei morto, e nem sei por que. Estou sentado na sala, pelado e gelado no meio de um calor insuportável. Acontece que é frio dentro de mim. Gelado. Olhei para o meu pinto. Ele pende para a esquerda. Seria ele um esquerdista? Seu pau traidor de merda! Ai ele me lembra das esquerdistas em quem penetrou. E lhe dou razão. Elas eram mesmo um tesão… Ou não? Seu caralho traidor, digo a ele. E ele diz que traidor sou eu, que não quis mais foder esquerdistas. São taradas, disse ele. E eu mandei que ficasse quieto, que dormisse. Ele lembrou da Eunice, que tinha uma buceta quente igual à da Cleonice. E quem foi que disse, que a Berenice era esquerdista? Eu não disse. Ah, disse ele, isso é apenas crendice, tolice, invencionice. Sábio meu caralho. Mas ele não sabe quem disse aquela frase, com uma palavra sem crase, que atribuía a mim algo que eu não disse. Esquisitice, brada ele, ainda meio mole, mas com a boca aberta. Ele pede uma punheta, mas eu recuso dar prazer a um ser que não sabe se está à direita ou à esquerda. Seu azar, diz ele. Assim nunca mais irá se casar. E quem disse que quero? Seu molenga de uma figa! Não diga, disse ele. Retomo minhas perguntas sobre o que sou, direita ou esquerda e chego a conclusão que a Revolução Francesa não foi nada, a não ser delicadeza. Que a Bastilha deve ser algum lugar em Servilha. Eu não sei. Espanha ou França, não tenho lembrança. E só sei que meu pau, o traidor, dança conforme a dança. Nem que seja na Vila Esperança, ou na Xavier. Onde ele quiser. Ah, meu pau, meu pau, meu pau… Até que não foi mau. Foder aquelas bucetas comunistas! Eram verdadeiras trapezistas, malabaristas, artistas. E muitas também flautistas. De bocas gulosas e musicais. Lembra da artista? Ele pergunta. E daquela analista? Ah, também daquela golpista? E, claro, não esqueça da malabarista, que em nada era fascista. E, ainda insiste ele, tem também a alemã nazista, que fodeu sem perguntar quando ia ao dentista. Não desista, disse ele. Seu pau filho da puta! Agora escuta… Reconheço que bucetas não precisam ter direção, apenas fixação. E por tesão qualquer um esquece a mão de direção. E trafega na contramão. Então, agora reconhece? Pergunta minha pica. Depois calada fica. E volta a dormir em cima do meu saco. Mas agora bem no meio, na costura. Ficou com medo de ser acusado de qualquer coisa que não é. Sábia minha pica. Estúpido sou eu!
17/03/2024
Do Livro:
Vômito de Metáforas
Barata Cichetto
Gênero: Crônicas Poéticas
Ano: 2024
Edição: 1ª
Editora: BarataVerso
Páginas: 248
Tamanho: 20 × 20 × 1,50 cm
Peso: 0,500
Barata Cichetto, Araraquara – SP, é o Criador e Editor do BarataVerso. Poeta e escritor, com mais de 30 livros publicados, também é artista multimídia e Filósofo de Pés Sujos. Um Livre Pensador.
Tal qual você, também me defino como conservador, exatamente por saber (e ter que) conservar a dor. A dor de ter que aturar ‘qualquercoisistas’ que abundam por aí, cheios de empáfia e falsa empatia. Punheteiros de pau mole, como dia Old Wolf, aquele rockista falastrão.
Tive um grande amigo que se apresentava como anarquista, mas andava com socialistas e comunistas, para no fim se revelar adepto de um fascista com um dedo a menos em uma das mãos.
Apesar de tantos ‘istas’ na vitrine à livre escolha, fico com Rauzito: eu sou ego, eu ista, eu sou ego-ista. Por que não?
Bien… Old Wolf às vezes dá umas derrapadas na estepe, mas ainda ainda é fora da curva, que, digamos, derrapa nas retas…Mas nesse caso, está corretíssimo… Punheteiros de pau mole… Esse seu grande amigo, que me foi amigo, sem nunca ter sido grande, embora fosse um Frank..Stein, não é exceção na turma que se diz anarquista, mas de fato é comunista. De uns bons anos, para variar em coisas que comunistas se apropriam, se apropriaram, veja só, até do anarquismo.
Quanto a mim, bem… Sabe que sou, antes de tudo um individualista, mas… Na prática, um Baratista!