Vômito de Metáforas | Tempo é o Nome de Deus

Atualizado em: 30/10/2024, as 11:10

Cá’stou! Voltando ao vômito diário de metáforas. Jogando palavras podres no liquidificador. Ou seria no ventilador? Disseram um dia que eu cago pela boca. Coisa de gente simples. Sem “cultura para cuspir na estrutura”. Como disse Raul. Que uivava feito um lobo machucado e urrava feito um carneiro empalado. Eu não cuspo na estrutura. Vomito na escultura. Feita de bronze. São cinco para as onze. Só não sei se da manhã ou da noite. Meu relógio quebrou. Há anos que não conto nem marco as horas. Só os séculos. Há décadas não sei o que é perder a hora. Mas é que mesmo agora. Ou há uma hora. Um ano. Um milênio. Percebi o erro que cometo. Em não saber das horas. Lembram quando as pessoas perguntavam as horas na rua? Faz tempo. Muitas horas isso. Então. Não é que agora todos tenham relógios. Têm celulares. Ou porque as horas passam tão rápido que ninguém tem sequer tempo de perguntar que horas são? Não. Não vou rimar com oração. Nem daí com coração. Ponteiros de relógios — quando relógios tinham ponteiros —, pareciam duas agulhas. Espetando a bunda dos números. Agora nem tem mais ponteiros nos relógios. Nem relógios de fato. As pessoas têm celulares. Números enormes numa tela. Lembrando tudo. E sem lembrar de nada. Nem de que são horas de não saber das horas. “O Tempo Não Pára”, cantou Cazuza, o cínico. E nem ainda eram cinco. Para a meia noite quando ele morreu. Cazuza nasceu. No mesmo ano que eu. 1958. Um ano perdido no tempo. Um tempo perdido. É. O tempo não para. Mas também não anda. Ele apenas avança. Numa tétrica e macabra dança. Sobre a esperança. Sobre a lembrança. E come feito Cronos. O coração dos filhos. Chronofagia. Autofagia. Canibalismo o tempo comete. Devorando a sí mesmo. Jantar sinistro. Avanço ou retrocesso? O tempo dirá. Dizia Izaura, minha avó. O tempo não disse. Nada disse. Chegou mudo e saiu calado. E eu não fui atrás dele: não tinha tempo a perder com ele. Se há um deus não é Jeovah. Nem qualquer outro nome desses. Tempo é o nome de Deus. Ou seria “deus” como preferem os ateus? O nome é Tempo de qualquer forma. Implacável. Intangível. Invisível. Incrível. Indivisível. Inadmissível? Um deus — ou Deus? — sem piedade. Sem bondade. Sem justiça. Psicopata. Sociopata. Ah… Feito qualquer outro de nomes diferentes. O tempo passa: frase de locutor de futebol. O tempo não passa. Ele nunca passa. Para nossa desgraça. Se passasse teria passado. E ido embora. Feito qualquer coisa boa ou ruim. Mas ele não passa. O tempo sempre fica. Feito amor de pica. O Tempo é igual a qualquer puta. Que nunca cobra o preço certo. Sempre cobra extra. Pela chupeta, pelo rabo ou pelo beijo na boca. Sempre tem algo a mais a cobrar. Pior que político, o Tempo finge que precisa da gente quando lhe interessa. E no resto do tempo. O Tempo nos cobra o pedágio. Com ágio. E age ágil. De acordo com o presságio. E nos acostumamos tanto ao Tempo. Que chega um tempo que nem percebemos sua onipotência. E nos deixamos levar. Feito o vento que levou. Feito qualquer coisa que nos leva a lugares que não queremos ir. E quando percebemos chega o fim de nosso tempo. O Tempo sempre vence. No final dos tempos. No final.

27/03/2024

Do Livro:
Vômito de Metáforas
Barata Cichetto
Gênero: Crônicas Poéticas
Ano: 2024
Edição:
Editora: BarataVerso
Páginas: 248
Tamanho: 20 × 20 × 1,50 cm
Peso: 0,500

Barata Cichetto, Araraquara – SP, é o Criador e Editor do BarataVerso. Poeta e escritor, com mais de 30 livros publicados, também é artista multimídia e Filósofo de Pés Sujos. Um Livre Pensador

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Barata
Administrador
29/03/2024 23:32

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