Vômito de Metáforas | Um Filósofo de Pés Sujos no Araraquaristão

Atualizado em 30/10/2024 as 23:01:43

Filosofia de Pés Sujos. É minha. Nasceu de uma humilhação. Nasceu da dor no coração. E por que não? Sempre tratei humilhação como redenção. Como expiação. Como certificação. Ah, mas disseram que não posso falar que sou filósofo. Heresia, disseram os letrados. Hipocrisia, disseram os poetas. As putas e os profetas nada disseram, que esses são burros feito tijolos. “Thick as a Brick”. Ah, sou mesmo um freak. A noite pertence aos filósofos de pés sujos. Andem nos bares. Puteiros e cinemas pornôs. Salas de bilhar, embaixo de pontes, beiras de estradas e degraus de escadas. Rolantes. E eu, que não tenho sobrenome alemão… Schop alguma coisa, Niet alguma coisa, ou qualquer nome terminado com “er”, não sei filosofar com o martelo. Filosofo mesmo com a marreta, ferramenta de pedreiro, carpinteiro. Pesada para caralho. Ah, eu que tenho um sobrenome italiano, subvertido por algum escrivão filhodaputa, e que nunca fui fumar maconha em nenhuma uspe, falo com cuspe, e com uma caneta vermelha cor de sangue. E também, porque não sou russo, somente tusso. Em cima do papel. Uma gosma escura de cigarro. E se não sou nenhum “ov”, “ski”, não sei filosofar com a foce. Prefiro dar coice. Sou um cavalo, segundo algumas mulheres. Um touro para outras. E um asno para a maioria. E o que me importa o que pensam que eu sou. Que nem eu mesmo sei o que sou. Só sei que escrevo com merda, sangue e suor. Escrevo com o fígado, nada de coração. Com coração escrevem os que não tem estômago. Eu não tenho fígado nem pulmão. Então, escrevo mesmo é com a ponta da faca que enterraram nas minhas costas. Tenho pés sujos porque ando descalço, feito escravos e gurus. Seria eu um escravo-guru? Um guru-escravo? Sou porra nenhuma disso, deixa de merda! Andar descalço é ruim quando a gente pisa num cigarro aceso que um idiota fumante, feito eu, jogou na rua. Ou na merda de um cachorro escroto de uma madame qualquer. Mas é quente o chão. Meus pés criam bolhas, que nas folhas, de papel, viram escolhas poéticas e filosóficas que espetam seu cérebro como uma agulha. A isso não renegue. Criticam minha pretensão, falam de formação. Rejeitam minha falta de erudição, meus erros de configuração, excessos na pontuação, falta de informação. Mas, que tolos, não conseguem mesmo é rechaçar minha deformação, minha perdição, minha imperfeição. No imperfeito está a força. Na imperfeição a determinação. Apenas não tenho mesmo pretensão de ser filósofo, e nem um desses títulos pomposos. É só mesmo uma provocação. Invenção. Diversão. De poeta sujo. Com suas sujeiras expostas na sala de estar. Não embaixo do tapete da sala de jantar. O bom de ser filósofo de pés sujos é que não preciso diploma para falar. Não tem plateia. E a única ideia é arrotar na cara dos convidados, depois de um lauto jantar. Com talheres de prata. E que os convivas se sirvam. Deste vômito de metáforas suculentas, que lhes sirvo. Ao som de “Anarquista Conservador”. Ou de Bach e seus florais. Todos amorais. Imorais? E o Moraes? Como está? Careca como sempre? Lex Luthor mudou para Brasília e agora é Imperador. Ele impera a dor. Trocadilho infame, concordo, mas eficaz. E se não eu for capaz… Não há paz! Mas, meu rapaz, onde fica a rua das putas nesta cidade, perguntou o forasteiro. Atrás do Cristo, respondo. É fato. Olhe no mapa. Ele ri, e se perde, indo parar na rua da prefeitura. Onde i prefeite sem gênere, dono da cidade ancora seu legado. Transformando em Morada da Merda a Morada do Sol. Então invado a Academia de Letras local, onde há uma festa em homenagem ao Brandão e grito bem alto que sou eu o Filósofo de Pés Sujos, em ditos cujos ombros recaem toda a maldição do mundo. E no Araraquaristão, a República Stalinista, só é artista, aquele que tem os pés calçados. Com botas de amarrar ovelhas. Então prefiro meus pés no chão do que a usar as sandálias dos omissos, dos que, em troca de uma dentadura, batem palmas para a ditadura.

18/03/2024

Do Livro: Vômito de Metáforas
Barata Cichetto
Poesia Crônica/Crônica Poética/Antiliteratura
UICLAP, 2024 — 248 Páginas — 20 X 20 X 1,25cm

Barata Cichetto, Araraquara – SP, é o Criador e Editor do BarataVerso. Poeta e escritor, com mais de 30 livros publicados, também é artista multimídia e Filósofo de Pés Sujos. Um Livre Pensador

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